O jornal The Washington Post publicou nesta sexta-feira (4) uma reportagem, mostrando os casos de corrupção envolvendo ao longo dos últimos anos a Sinovac Biotech, fabricante da vacina Coronavac, a mesma que o governador Joao Doria classifica como “a vacina do Brasil”.
Diz a publicação que a Sinovac foi a primeira a iniciar os testes clínicos de uma vacina contra a SARS, em 2003, e a primeira a lançar um imunizante contra a gripe suína, em 2009.
Mas, “seu CEO também estava subornando o regulador de drogas da China para aprovações de vacinas durante aquele tempo, como mostram os registros do tribunal”.
A matéria afirma ainda que, “embora a corrupção e a fraca transparência tenham atormentado por muito tempo a indústria farmacêutica da China, raramente a confiabilidade de um único fornecedor de medicamentos do país teve tanta importância para o resto do mundo.”
E cita nominalmente o Brasil entre os países em desenvolvimento que podem ser imunizados com a vacina nas próximas semanas. Os outros dois são a Turquia e a Indonésia.
“O governador de São Paulo, Joao Doria, “considerou a vacina a mais segura que o Brasil já testou”, afirma o jornal, ilustrando com uma foto de Doria segurando a Coronavac.
A matéria também questiona a eficiência da vacina, cujos dados dos testes finais ainda não foram divulgados pela Sinovac.
“É incerto se a vacina pode proteger os receptores com tanto sucesso quanto as vacinas da Moderna e da Pfizer, que foram mais de 90% eficazes nas análises preliminares.”
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https://simonegalib.com/2020/06/chineses-nao-confiam-em-suas-vacinas.html
PROPINAS
A Sinovac reconheceu o caso de suborno envolvendo seu CEO, Yin Weidong, mas disse que ele cooperou com os promotores e não foi acusado.
Weidong disse em depoimento que não poderia recusar pedidos de dinheiro de um oficial regulador.
O Washington Post diz ainda, com base em registros públicos, que a ascensão da Sinovac na indústria farmacêutica chinesa “ocorreu com a ajuda de projetos prioritários de Pequim e propinas a funcionários que ajudaram nas revisões regulatórias e acordos de vendas”.
Segundo o jornal, no testemunho do tribunal de 2016, o fundador e chefe executivo da Sinovac, Yin Weidong, admitiu ter dado mais de US$ 83 mil de subornos, entre 2002 e 2011, para um oficial regulador encarregado de supervisionar as análises das vacinas.
O fato foi confirmado pelo agente e sua esposa, que disseram ter acelerado os processos das vacinas Sinovac.
Curiosamente, “esses anos coincidem com a escolha de funcionários de Pequim para a Sinovac liderar o desenvolvimento de vacinas para SARS, gripe aviária e gripe suína”, relata o jornal.
Este não foi o único caso: cerca de 20 funcionários do governo e administradores de hospitais em cinco províncias admitiram no tribunal terem aceitado subornos da Sinovac, entre 2008 e 2016.
A Sinovac disse em 2017 que abriu uma investigação interna em resposta aos casos de suborno. Ainda não anunciou os resultados.
SEM ESCÂNDALOS
Ao contrário de outras fabricantes de vacinas chinesas, a Sinovac não se envolveu em escândalos e não há evidências de que qualquer uma das vacinas aprovadas estivesse com defeito.
Mas, alguns especialistas ponderam que o histórico moral acaba interferindo.
“O fato de a empresa ter um histórico de suborno lança uma longa sombra de dúvida sobre suas alegações de dados não publicados e não revisados por pares sobre sua vacina”, disse Arthur Caplan, diretor da divisão de ética médica do New York University Langone Medical Center.
Ele acrescenta:
“Mesmo em uma pandemia, uma empresa com um histórico moralmente duvidoso deve ser tratada com grande cautela em relação às suas reivindicações.”
Será que a Anvisa vai levar em conta esse histórico?