João de Deus, acusado de abusar sexualmente de mais de 500 mulheres – entre elas, há a denúncia de sua própria filha, violentada desde a infância -, foi preso no domingo, 16 de dezembro, nas proximidades de Abadiânia. A cidadezinha, de apenas 18 mil habitantes, a 80 km de Goiás, cresceu em torno do turismo espiritual.
As pessoas se perguntam: Como ele pôde enganar tanta gente durante mais de quatro décadas? A história, que chocou o Brasil e está repercutindo no mundo, onde era chamado de John of God, precisa ser avaliada no âmbito da fé. Não é somente um caso de polícia.
Ele agiu assim por tanto tempo porque as pessoas permitiram, acreditaram que era uma divindade na Terra para curar os seus males físicos, morais e espirituais. Foram os seus seguidores que deram o poder para este João, um homem como outro qualquer, cheio de paixões, ambições e desejos. E o que é pior: não respeitava as Marias…
Muitas pessoas dizem ter sido curadas por ele. Não discuto aqui a sua sensibilidade mediúnica, mas quem conhece a espiritualidade verdadeira ou a doutrina espírita, sabe que o médium não cura ninguém. É apenas um intermediário, uma espécie de mensageiro, entre o plano superior e a humanidade.
Todo médium vem com esta tarefa para ajudar o seu semelhante, mas nunca pode ser considerado um milagreiro. Quem curam são os espíritos, que apenas usam o seu corpo. E só recebe aquele que tenha algum merecimento. Milagres acontecem a cada segundo em nossa vida cotidiana sem a interferência de nenhum José ou João.
Outro aspecto importante: os maiores desafios na vida de um médium são disciplina e conduta moral. Ele deve servir de exemplo para conseguir fazer, com maestria, a ponte entre o céu e a terra.
E desde que o mundo é mundo o homem não consegue controlar a sua sexualidade (a Bíblia e a literatura estão repletas de exemplos). É uma lei física – não espiritual. Basta lembrar dos casos de abusos envolvendo padres e outros que se dizem líderes espirituais.
Em seu avental, o bordado com o triângulo (símbolo da casa) e o nome em inglês |
João costumava dizer no seu complexo de atendimento em Abadiânia, frequentado por cerca de 3 mil pessoas diariamente, que não curava ninguém porque “quem cura é Deus”.
Mesmo assim incorporou em seu sobrenome o nome daquele que verdadeiramente cura. Nem Jesus usou o nome do Pai. Nunca foi chamado de Jesus de Deus. Nunca teve templos suntuosos, fazendas e dinheiro, embora fosse descendente do rei David.
Então, o tal João tinha o fundamento, mas não a prática. Além do mais, fixou o seu “império da fé” em uma região muito privilegiada do Brasil em termos de energia. Ali, a força (curativa) da natureza é maior do que a de qualquer homem.
Sem falar, nas milhares de pessoas que se mantinham constantemente em oração, em meditação, na fé individual de cada um e nos outros médiuns que também atuavam no centro. Então, poderiam, sim, acontecer curas, não necessariamente apenas por intermédio dele.
Mas, João resolveu profanar esse local de fé em seus atendimentos pessoais na sala de um enorme banheiro. Não é possível que mais de 500 mulheres tenham inventado a mesma história. A troco de quê fariam isso? Em alguns depoimentos, as vítimas dizem que quem agia assim era a “entidade” e não o homem.
Outra inverdade, porque todo médium tem plena consciência do que está fazendo. Não existe incorporação inconsciente. Assim, ele sabia exatamente como manipular mulheres que estavam vulneráveis, carentes e doentes.
Este, sim, o seu maior crime. E que, segundo os promotores que cuidam do caso, foi também acobertado por alguns funcionários e frequentadores do centro. Afinal, tudo girava em torno desse turismo espiritual.
Ao se entregar à polícia nesta tarde, depois de ter sacado R$ 35 milhões de suas contas bancárias, ele disse: “Eu me entrego à Justiça divina e à da terra”.
Pode ser que nem fique preso por muito tempo ou que ganhe a prisão domiciliar com uso de tornozeleira, conforme pede o seu advogado, alegando motivos de saúde. É preciso aguardar o decorrer das investigações!
Já com a Justiça divina não haverá fortuna que pague sua prestação de contas!