ANIMADO COM A COPA OU DESANIMADO COM O BRASIL?

   Dizem que os brasileiros não estão nem aí com a Copa, que começa nesta quinta-feira, 14 de junho, na Rússia. Dizem também que o futebol “não é mais o ópio do povo” e que hoje há outras pautas mais urgentes na agenda mental da nação. Será? Tenho lá as minhas dúvidas. Aliás, tenho certeza de que a história não é bem assim.


  O brasileiro continua adorando futebol, sim. E, em tempos de Copa do Mundo exerce como nunca o seu “patriotismo”: não sente vergonha de hastear a bandeira na janela, pinta as ruas de verde e amarelo, vai trabalhar com a camisa da seleção brasileira… Como torcedor, parece estar liberado para defender a pátria. Futebol não tem partido, certo? E a Copa é uma grande jogada de marketing em tempos de vacas magras!


  Esse eventual “desânimo” não está relacionado à atual crise moral, política e econômica que tomou conta do país e sem previsão de ser vencida a curto prazo. Tem muito mais a ver com a vergonha internacional que foi a derrota para a Alemanha no quintal de casa, em 2014. Quem consegue esquecer aquela goleada histórica?


  O torcedor se sentiu “traído” e a dor da traição custa a ser superada. Ela se torna uma chaga no coração. É com esse sentimento – o de parceiro traído, enganado, iludido – que muitos brasileiros aguardam a estreia do maior campeonato de futebol do mundo. Muitos também sentem medo de serem traídos outra vez.


   Mas, espera até a seleção começar a jogar, fazer gols e eventualmente ganhar a partida que o orgulho nacional vai brotar das fontes murmurantes e os festeiros sairão às ruas para comemorar – vestidos de verde e amarelo e sem medo de serem chamados de “coxinhas”.


   A parcela mais consciente da população sabe que não há motivo algum para sentir orgulho deste país, nem mesmo no esporte, porque a grande perda não foram os 7 x1 contra a Alemanha. E ainda estamos muito longe, enquanto Nação, de vencer a nossa mais difícil partida: o jogo contra corrupção.


  Não se iluda, torcedor. Enquanto você estiver nos bares ou na casa de amigos assistindo aos jogos da Copa, os bandidos dos times nacionais mais diversos também continuarão em campo – e em diversas posições.


  Alguns desviando dinheiro em contratos super faturados; outros tentando obstruir a Justiça (especialmente a Lava-Jato e os juízes de primeira instância) para sair da cadeia; e outros ainda sendo soltos por alguns ministros da mais alta Corte… enquanto a galera grita gol vestida de verde e amarelo.


  Nada contra torcer para a seleção na Copa – faz parte das raízes nacionais. Mas, a nossa grande torcida deve ser para recuperarmos a dignidade moral que nos foi roubada de forma tão descarada.


  É manter um olho grudado na TV e o outro no noticiário político e no desenrolar dos processos contra a corrupção. É vestir verde e amarelo sempre que precisar defender o país de interesses escusos e de políticos que legislam somente em causa própria.


  A nossa mais difícil partida não será disputada na Rússia, galera!