Hoje
tive uma vivência inusitada. Passei cerca de 45 minutos sem enxergar
absolutamente nada, precisando me locomover em ambientes distintos, sem saber
exatamente aonde estava pisando, se atravessava uma avenida, derrapava na curva, cruzava uma ponte ou entrava em um bosque. Cada passo era uma aventura com direito a muita adrenalina. Porém, tive a ajuda de um
guia muito sensível e habilidoso, que me pegou pela mão diversas vezes, colocando-me no rumo certo. E fui auxiliada o tempo todo por colegas, os quais tinha acabado de conhecer, para percorrer o caminho.
tive uma vivência inusitada. Passei cerca de 45 minutos sem enxergar
absolutamente nada, precisando me locomover em ambientes distintos, sem saber
exatamente aonde estava pisando, se atravessava uma avenida, derrapava na curva, cruzava uma ponte ou entrava em um bosque. Cada passo era uma aventura com direito a muita adrenalina. Porém, tive a ajuda de um
guia muito sensível e habilidoso, que me pegou pela mão diversas vezes, colocando-me no rumo certo. E fui auxiliada o tempo todo por colegas, os quais tinha acabado de conhecer, para percorrer o caminho.
Fui visitar a exposição Diálogo no escuro, a convite do Unibes Cultural (antigo Centro de
Cultura Judaica), que reabriu totalmente repaginado, nesta segunda-feira (17), em
um prédio de 12 andares, no Sumaré, em São Paulo. A exposição ocupa quatro
ambientes totalmente sem luz, onde somos guiados por deficientes visuais e desafiados
a conhecer o mundo com “outros olhos”. Não é uma mostra de arte ou de objetos,
mas sim de relações humanas.
Cultura Judaica), que reabriu totalmente repaginado, nesta segunda-feira (17), em
um prédio de 12 andares, no Sumaré, em São Paulo. A exposição ocupa quatro
ambientes totalmente sem luz, onde somos guiados por deficientes visuais e desafiados
a conhecer o mundo com “outros olhos”. Não é uma mostra de arte ou de objetos,
mas sim de relações humanas.
Assustador? Não. Mais do que conscientizar
como vivem as pessoas cegas ou com baixa visão, a experiência nos leva a
explorar outros sentidos. E o que é mais interessante: mostra que somos nós
quem determinamos nossos próprios limites e podemos superá-los, se assim
quisermos. Perder a visão ou ter apenas parte dela não significa deixar de enxergar,
interagir, sentir, tocar, se emocionar e viver intensamente. Muito pelo ao
contrário.
como vivem as pessoas cegas ou com baixa visão, a experiência nos leva a
explorar outros sentidos. E o que é mais interessante: mostra que somos nós
quem determinamos nossos próprios limites e podemos superá-los, se assim
quisermos. Perder a visão ou ter apenas parte dela não significa deixar de enxergar,
interagir, sentir, tocar, se emocionar e viver intensamente. Muito pelo ao
contrário.
PAPÉIS
INVERTIDOS
Criada
há 26 anos, a mostra já percorreu cerca de 32 países, como Alemanha, Argentina,
Áustria, Coreia do Sul, Índia, Israel, Itália, Japão e Rússia, entre outros, atraindo
mais de 8 milhões de visitantes. E neste momento, 680 mil pessoas estão passando
pela experiência ao redor do mundo.
há 26 anos, a mostra já percorreu cerca de 32 países, como Alemanha, Argentina,
Áustria, Coreia do Sul, Índia, Israel, Itália, Japão e Rússia, entre outros, atraindo
mais de 8 milhões de visitantes. E neste momento, 680 mil pessoas estão passando
pela experiência ao redor do mundo.
Pausa para uma foto com o professor Andreas Heinecke |
Autor do projeto, idealizado há quase três
décadas a pedido de uma amiga com deficiência visual, o professor Andreas
Heinecke, diretor da Dialogue Social Enterprise, veio a São Paulo prestigiar a
abertura. O objetivo, diz ele, é usar a sala escura para promover a troca de
papéis, “porque aqui ficam às cegas os que enxergam e os que vêem são cegos.” Outro
foco da experiência, segundo seu criador, é “mudar a cabeça das pessoas, para
que elas vejam a si mesmas e o outro.” Um pai que levou o filho
cego, terminou a vivência sob forte impacto: “Tive a oportunidade de sentir o
que meu filho sente todos os dias.”
décadas a pedido de uma amiga com deficiência visual, o professor Andreas
Heinecke, diretor da Dialogue Social Enterprise, veio a São Paulo prestigiar a
abertura. O objetivo, diz ele, é usar a sala escura para promover a troca de
papéis, “porque aqui ficam às cegas os que enxergam e os que vêem são cegos.” Outro
foco da experiência, segundo seu criador, é “mudar a cabeça das pessoas, para
que elas vejam a si mesmas e o outro.” Um pai que levou o filho
cego, terminou a vivência sob forte impacto: “Tive a oportunidade de sentir o
que meu filho sente todos os dias.”
“Aqui ficam às cegas os que enxergam e os que enxergam são cegos” (Andreas Heinecke)
SEM
PRECONCEITO
Heinecke diz que “no escuro não há
religião, cor, credo ou preconceito. Não importa se você é gordo, magro etc.
Ninguém é julgado pelas aparências e no escuro somos todos iguais. Temos de confiar no outro, porque sem ele
não podemos fazer nada”. E essa liberdade de preconceitos, ou estereótipos, estimula
um diálogo aberto, onde é muito mais importante ouvir do que falar. Durante todo o
trajeto, as placas de sinalização se resumem a esta frase: SIGAM A MINHA VOZ
religião, cor, credo ou preconceito. Não importa se você é gordo, magro etc.
Ninguém é julgado pelas aparências e no escuro somos todos iguais. Temos de confiar no outro, porque sem ele
não podemos fazer nada”. E essa liberdade de preconceitos, ou estereótipos, estimula
um diálogo aberto, onde é muito mais importante ouvir do que falar. Durante todo o
trajeto, as placas de sinalização se resumem a esta frase: SIGAM A MINHA VOZ
Além de promover essa interação humana, o
projeto também cumpre o papel de inclusão social. O mexicano Pepe, que
é guia máster e veio a São Paulo para trabalhar na multissensorial vivência,
disse que a atividade, exercida por ele há oito anos, transformou radicalmente
a sua vida. “Deixei de ser dependente e alcancei a total independência graças ao
contato com outros cegos e ao fato de me sentir útil à sociedade”. Hoje, ele
viaja o mundo todo, comanda a própria empresa de recursos humanos e ainda atua
como coach no mercado corporativo.
projeto também cumpre o papel de inclusão social. O mexicano Pepe, que
é guia máster e veio a São Paulo para trabalhar na multissensorial vivência,
disse que a atividade, exercida por ele há oito anos, transformou radicalmente
a sua vida. “Deixei de ser dependente e alcancei a total independência graças ao
contato com outros cegos e ao fato de me sentir útil à sociedade”. Hoje, ele
viaja o mundo todo, comanda a própria empresa de recursos humanos e ainda atua
como coach no mercado corporativo.
Percorrer essa mostra interativa, às
cegas, representa muito mais que um programa cultural entre tantos da cidade. Não vou contar todos os detalhes porque cada um deve ter a sua própria experiência e impressões. Só posso dizer que é uma vivência existencial, de gratidão, principalmente, depois, quando abrimos os
olhos lentamente e enxergamos a luz.
cegas, representa muito mais que um programa cultural entre tantos da cidade. Não vou contar todos os detalhes porque cada um deve ter a sua própria experiência e impressões. Só posso dizer que é uma vivência existencial, de gratidão, principalmente, depois, quando abrimos os
olhos lentamente e enxergamos a luz.
SERVIÇO
Diálogos no escuro ficará em cartaz até fevereiro de 2016.
Hoje (27/8) e amanhã 28/8) participa da Virada Sustentável e tem entrada franca. Nesta quinta, o horário é das 15h às 16h, e na sexta, das 14h às 15h, para grupos de 40 pessoas em cada dia. Chegar com 30 minutos de antecedência.
Unibes Cultural – rua Oscar Freire, 2.500, ao lado da estação Sumaré do metrô.
Ingresso: R$ 24,00 e R$ 12,00 (meia entrada e para deficientes visuais). Grátis às terças-feiras.