Alain em Paris: A FABULOSA HISTÓRIA DO URSINHO DE PELÚCIA!

O inverno ganha toque lúdico no Musée des Arts Décoratifs, com exposição que exibe desde a origem do brinquedo até os dias atuais em que servem de modelos para os maiores designers de moda!

POR ALAIN ROUSSEAU

Certamente é a exposição mais surpreendente da temporada em Paris: como o urso, o antigo rei dos animais, reverenciado por sua força e temido por sua ferocidade, conseguiu se tornar o mais popular dos brinquedos infantis?

Essa é a história por trás da exposição no Musée des Arts Décoratifs (ao lado do Museu do Louvre), que vai até o final de junho e apresenta 130 ursos de sua coleção. Faça um passeio guiado pela terra da ternura e da maciez.

Fotos Alain Rousseau

Organizada em dez etapas, a exposição acompanha a evolução do ursinho de pelúcia desde o seu nascimento ao longo das décadas, especialmente nos anos 1940 e 1950, para
atender às expectativas cada vez maiores das crianças e dos pais, até os dias atuais como modelo para os maiores designers de moda.

Mas, embora os ursinhos de pelúcia sejam brinquedos, eles também desempenham um papel importante no desenvolvimento da criança, como demonstrou o pediatra e psicanalista britânico Winnicott em sua teoria do objeto transicional.

COMO NASCEU O URSINHO DE PELÚCIA?

Em 1902, após uma caçada ao urso da qual o presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, participou, nasceu o famoso Teddy Bear – o urso do Teddy apelido comum de Theodore. Recusando-se a atirar em um filhote de urso indefeso, a ação de Roosevelt foi noticiada pela imprensa, inspirando Morris Michtom a criar um brinquedo de ursinho de pelúcia que se tornou um sucesso comercial imediato.

Do outro lado do Atlântico, Margarete Steiff e seu sobrinho Richard inventaram o primeiro urso de pelúcia articulado em 1902 e também ajudaram a popularizar o brinquedo na Alemanha. O ursinho de pelúcia rapidamente se tornou um best-seller, fazendo da Alemanha o maior produtor mundial. O animal feroz, transformado em uma réplica tocante, tornou-se o brinquedo macio por excelência. Símbolo de suavidade e ternura, virou uma estrela entre as crianças durante toda a sua infância.

URSOS FICTÍCIOS
Capaz de ficar em pé e imitar os gestos humanos, o urso é o animal fictício antropomórfico ideal. O advento do ursinho de pelúcia no início do século 20 eliminou os aspectos mais assustadores do animal e levou a uma rápida proliferação de personagens ursos na literatura infantil, principalmente a partir da década de 1920, com o famoso ursinho Winnie the Pooh e, mais tarde, Mishka e Paddington. Sejam ursos que vivem em um mundo de ursos ou ursos que evoluem em meio aos seres humanos, a maioria dos heróis ursídeos é semelhante aos ursos de pelúcia e são retratados como redondos e macios, longe do
estado de natureza.

Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, Donald Woods Winnicott, um influente psiquiatra infantil, teorizou sobre fenômenos e objetos transicionais. Para se conformar com a realidade, ou seja, para administrar a tensão entre a realidade interna e a realidade externa, os indivíduos usam uma área intermediária, um verdadeiro amortecedor entre sua subjetividade e suas percepções objetivas, em que fenômenos transitórios como a arte, a religião e o primeiro deles – a brincadeira – entram em ação. A brincadeira é, portanto, um espaço imaginário necessário para que as crianças estabeleçam uma relação com o mundo.

Para isso, elas precisam de objetos físicos que façam parte da realidade externa, geralmente começando com o polegar ou o punho, depois com coisas macias, como um brinquedo de pelúcia ou o canto de um cobertor e, por fim, com bonecas ou brinquedos duros. O objeto de transição é aquele que a criança encontra e investe nesse estágio de desenvolvimento, o famoso brinquedo de pelúcia.

URSO DA MODA


Mais recentemente, as casas de moda e os designers aproveitaram a figura do urso para transformá-lo em um acessório. Não apenas Jeremy Scott, mas também nomes famosos como Christian Dior, Hermès e
Louis Vuitton incorporaram o ursinho de pelúcia em suas coleções e criações, tornando-o um verdadeiro fenômeno da moda. Às vezes, como no caso de Jean-Charles de Castelbajac, ele também representa um ato militante, pois o designer é conhecido por não usar peles.

O Musée des Arts Décoratifs convidou vários designers para reinterpretar o guarda-roupa do brinquedo, incluindo Marine Serre, Koché, Moschino e Issey Miyake. E o que dizer da surpreendente poltrona de Chubby Baloo para a marca de móveis belga AP Collection? Como nao lembrar da poltrona “Soft toy” dos irmãos Campana.

BOUDOIR PELOCHOIR

Esta é certamente a peça mais poética da exposição. Criada pelo artista nova-iorquino Charlemagne Palestine, para quem os brinquedos de pelúcia são uma de suas principais fontes de inspiração, é uma espécie de gruta mágica cheia de ruídos estranhos, feita especialmente pelo artista para o Musée des ArtsF Décoratifs.

Para ser vista e ouvida sem parar!

ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.

GOSTOU? COMPARTILHE AGORA:

X | Twitter
Telegram
Facebook
LinkedIn
WhatsApp