POR ALAIN ROUSSEAU
Esta é provavelmente a coluna mais emocionante que já escrevi até hoje. Na última segunda-feira, decidi visitar a Catedral de Notre Dame de Paris após a sua reabertura e depois também que as multidões de turistas do final do ano tivessem ido embora.
Assim, tendo feito a reserva no site da Notre Dame pela manhã (as reservas abrem no mesmo dia e os horários de visita são publicados online à medida que o dia avança), não enfrentei fila e fui direto para lá!
A primeira coisa que me chamou a atenção quando entrei foi a brancura imaculada da pedra restaurada. É preciso dizer que, durante os cinco anos de trabalho, os 42 mil m² de pedra foram limpos com as técnicas mais modernas. Algumas pedras foram aspiradas com aspiradores especiais, enquanto outras passaram por um pente fino usando lasers. Outras ainda foram lavadas com um látex especial que, sem agredir a pedra, remove séculos de poeira.
O resultado é surreal – você se sente como se tivesse entrado em outro mundo, protegido do mundo exterior.
Ah, os vitrais nunca estiveram tão brilhantes – e estava nublado, então mal posso esperar para voltar no verão e vê-los iluminados pela luz do sol.
Assim como a pedra do edifício, os vitrais, removidos da catedral nos dias seguintes ao incêndio, foram todos restaurados na oficina em um período de quatro anos por mestres vidreiros. Primeiro, substituíram os acessórios, ou “barlotières”, e depois os painéis de vidro que os sustentam. Quando os painéis estavam no lugar, os mestres vidreiros os reforçaram com vergettes, finas barras horizontais de metal presas por um tipo de pino conhecido como clavette.
Em seguida, eles colocaram os laços de chumbo que unem os painéis para ajudar a isolar o edifício e os enrolaram sobre si mesmos para evitar que ficassem para fora do padrão. Por fim, aplicaram os astiques, que eles tingem, para tornar a abertura hermética.
Meu favorito: as duas paredes esculpidas em ambos os lados do coro para isolá-lo do barulho. A mais antiga, no lado norte, data do século 13: cenas da infância de Cristo: a Visitação, a Anunciação aos Pastores, a Natividade, a Adoração dos Magos.
No lado sul, mais etéreas e esbeltas em minha opinião, estão as Aparições de Cristo. Inspiradas no evangelho de Nicomedes, elas representam a Aparição de Cristo a Maria Madalena, a Aparição às Santas Mulheres e a São Pedro, os discípulos de Emaús, São Tomé.
Deixarei a última palavra para o poeta frances Théophile Gautier, que me parece expressar muito bem o que senti na segunda-feira:
ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.
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