Alain em Paris: A EXPOSIÇÃO MAIS DANÇANTE DA TEMPORADA!

O movimento Disco fez história nos anos 1970 e agora pode ser revisitado na eletrizante mostra Disco - I´m coming out, na capital francesa. Vamos dançar?

POR ALAIN ROUSSEAU

Tony Blue, Tim Maia, Donna Summer, Diana Ross, Dalida e Cerrone, artistas dos quatro cantos do mundo, todos tocando a mesma música: disco!

E com ela toda uma cultura que vai muito além dos cortes afro, das calças boca de sino, das bolas de discoteca e dos strass e das lantejoulas aos quais ela é apressadamente reduzida.

Esse é o momento que a nova e fantástica exposição muito dançante na Philharmonie de Paris (a sala São Paulo parisiense), Disco – I’m coming out, nos conta até 17 de agosto.

Vamos fazer um tour em quatro ambientes!

A exposição está na Philharmonie de Paris até 17 de agosto / Foto Alain Rousseau

LET´S GROOVE

Aqui descobrimos as raízes do movimento Disco, suas origens afro-americanas na Filadélfia, alimentadas pelo funk, como os artistas da Motown, e clubes de Nova York, como o Loft e seu lendário DJ, David Mancuso.

A discoteca é, antes de tudo, uma dança: 120 batidas por minuto é o ritmo que lembramos da Disco. Um ritmo que o convida a dançar, graças a uma linha de baixo arredondada, guitarras com funk e letras que celebram a sensualidade e a euforia.  É uma música libertária e libertadora incorporada por divas como Diana Ross e Gloria Gaynor.

E, para ilustrar esse estado de espírito, a exposição inclui o traje Spacer usado pela diva francesa Sheila (um ídolo dos anos 60), desenhado pelo costureiro Loris Azzaro em 1979. Cercada por músicos e dançarinos pretos, Sheila causou um grande alvoroço e popularizou a discoteca na França. Um pouco mais adiante, um violão de Nile Rodgers, fundador do lendário grupo Chic!

I AM WHAT I AM (EU SOU O QUE SOU)

 A musa Disco Diana Ross retratada por Andy Warhol / Foto Alain Rousseau

Onde aprendemos que a Disco desempenhou um papel na convergência das lutas feministas e homossexuais, com as minorias se unindo de Stonewall ao Christopher Street Pier.

Todos esses momentos são ilustrados por várias fotos e pinturas – três imagens da série homônima de Peter Hujar, uma Marsha P. Johnson imortalizada por Andy Warhol… Também ficamos emocionados com a primeira bandeira pintada pelo ativista e designer Gilbert Baker a pedido de Harvey Milk para a primeira Gay Pride. Também nos apaixonamos por duas pinturas de Barkley L. Hendricks (1945-2017). Ele pintou os marginalizados”, explica Marion Challier, responsável pela exposição. Negros, homossexuais, mulheres e esse casal que ele conheceu nas ruas da Filadélfia: ele é um WASP, provavelmente de origem irlandesa, seu parceiro de origem latina…”.

Protesto defendendo direitos das minorias em Nova York / Foto Alain Rousseau

Aqui estamos no centro da questão: a pista de dança e seu poder social e sensual.

Com muitas imagens do icônico Studio 54 em Nova York e do parisiense, mas igualmente chique, Palace. Em exposição estão pinturas a óleo de Andy Warhol de Blondie e Grace Jones, e ingressos para bebidas do Studio 54. Há também painéis impressionantes de fotografias de Pierre & Gilles com a equipe do Palace: Alain Pacadis, a modelo Farida Khelfa, Eva Ionesco, o cantor Serge Gainsbourg e sua esposa Bambou, entre outros.

O icônico Studio 54, em Nova York / foto Alain Rousseau

Uma pequena sala se concentra no clube The Saint, muitas vezes esquecido, cujas ambições, por outro lado, eram imensas, com capacidade para 4 mil pessoas, muito longe de outros clubes mais confidenciais de Nova York. Nos primórdios, a AIDS era chamada de Saint’s Disease… E para ilustrar a atmosfera desse clube lendário, o memorável pôster Act Up de Keith Haring, Ignorance = Fear / Silence = Death (Ignorância = Medo / Silêncio = Morte), e outro lembrete bem-humorado da necessidade de se proteger estão em exibição.

CELEBRATION (Celebração)

Essa parte da exposição reflete a globalização da discoteca e sua importância na cultura pop. Em frente a um loop de videoclipes (de Madonna a Dua Lipa e Daft Punk recomendo o vídeo de Cerrone com dançarinos incríveis) e trechos de filmes (Climax), a bateria de Cerrone, feita para as Olimpíadas de Paris, ocupa um lugar de destaque. Um pouco mais adiante, a série fotográfica de François Prost mostra as fachadas de clubes deliciosamente kitsch: Niagara, Brigitte e L’Acropol. Nada nunca foi demais para a discoteca, nem mesmo o esplendor greco-romano.

RECURSOS DE BÔNUS

A exposição também conta com uma coleção de trajes que poderíamos nos ver usando… ou não: um traje Loewe dedicado ao travesti Divine e roupas de palco de Cerrone, Sylvester, Dalida, Juliette Armanet e Clara Luciani.

No que diz respeito ao design, sofás no estilo do Studio 54, incluindo boca de ouro. A década de 1970 foi o início da cultura material”, diz Marion Challier. Muitas coisas foram inventadas no design.

No lado do hardware, um magnífico sintetizador Moog IIIP de 1969, cercado por partituras de Edwin Starr e Janis Ian…

E toda a exposição é acompanhada pela trilha sonora, costurada a partir dos maiores clássicos da discoteca poro DJ Dimitri from Paris, 120 batidas por minuto, é claro.

E se você estiver em Paris no dia 6 de julho, não deixe de ir à Accor Arena para assistir ao show da rainha da Disco: Diana Ross!

ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.

GOSTOU? COMPARTILHE AGORA:

X | Twitter
Telegram
Facebook
LinkedIn
WhatsApp