POR ALAIN ROUSSEAU
Em Paris, como em São Paulo, você pode fazer uma viagem culinária ao redor do mundo enquanto estiver aqui. Hoje eu vou levá-lo a um tour pela gastronomia marroquina, uma culinária refinada e variada.
ORIGENS
A culinária marroquina sofreu muitas influências: amazigh, andaluza e judaica, o que a torna única no Mediterrâneo. Ela reflete a história do país e as diferentes populações que se estabeleceram aqui. Os amazigh trouxeram tâmaras (para ajudar a quebrar o jejum do Ramadã), leite, cereais, pão, amêndoas, frutas e ervas.

A invasão árabe trouxe especiarias, frutas secas, nozes e combinações agridoces; os mouros introduziram azeitonas, azeite de oliva e frutas cítricas; os judeus compartilharam suas técnicas de preservação de alimentos, como limões e pepinos em conserva.
E não podemos nos esquecer dos britânicos, que importaram o famoso chá no século 18, e dos colonos franceses, que deixaram para trás uma cultura de café, doces e até mesmo de produção de vinho.
Aqui, você tem três endereços incrríveis na capital francesa.
LE MAROC

Esse é o restaurante marroquino mais antigo de Paris, aberto desde 1961 na rue Danielle-Casanova, 9, a poucos passos da Opéra Garnier. Sua decoração típica vem da Exposição Universal de Bruxelas realizada em 1958. Como resultado, o local agora está tombado. Você pode admirar o trabalho de gesso finamente cinzelado, a louça de barro multicolorida e os tetos de madeira de cedro esculpidos com seu belo dourado.
No cardápio, um cuscuz divino. A sêmola fina é cozida com perfeição. O caldo é aromatizado pelas muitas especiarias, os legumes são frescos e a carne é de excelente qualidade. Experimente o cuscuz Medfoune (frango, uvas, manteiga fresca e água de flores), servido sem molho e que não é nem um pouco seco. O prato marroquino (kebab, merguez, salada mechouia, salada bedouia, zaalouk) é um prato à parte. Não se esqueça de pedir a famosa pastilla de frango caseira, onde a combinação doce e salgada é perfeitamente dominada. Para a sobremesa, a salada de laranja com canela é a especialidade da casa.
LE 404

Localizado atrás do centro Georges Pompidou, na rue des Gravilliers, 69, parece um Kasbah de luxo, principalmente em termos de decoração. Os tapetes orientais adornam o piso, a atmosfera torna-se mais suave assim que o sol começa a se pôr, e as lanternas de ferro forjado deixam entrar apenas um feixe fraco de luz para que as cores quentes da decoração aqueçam o ambiente.
Ao ritmo das influências orientais, você se senta em uma mesa generosa para saborear pastillas ou mechoui caseiro com ervas como entrada, antes de começar um de seus pratos exclusivos. Cuscuz ou tajines, a escolha é sua. Há quem prefira a versão vegetariana com sete legumes e quem prefira uma versão mais tradicional, com linguiça de cordeiro ou merguez e almôndegas Kafta. A refeição geralmente termina com uma nota doce, com o sabor dos chifres de gazela ou o exotismo de uma salada de laranja com canela e flor de laranjeira, tudo regado a chá de hortelã.
CHOUKRAN


Este é o novo endereço marroquino nesta primavera, inaugurado há apenas um mês na rue d’Aboukir, 69, no coração do 2º arrondissement.
Choukran, que significa obrigado em árabe, é um convite para descobrir o autêntico Marrocos, nascido do desejo de compartilhar as receitas de família que moldaram a infância do chef Abdel Aloaoui. Uma cozinha ensolarada e generosa para (re)descobrir os fundamentos da culinária marroquina.
O cardápio começa com kémias. Literalmente servidas em “pequenas quantidades”, elas podem ser consumidas como entrada ou como acompanhamento. Depois, há as croquetas du bled: croquetes de batata e harissa, hummus de beterraba e, finalmente, o nosso favorito, os briouates de cordeiro no estilo pastilha, servidos com molho de ameixa para dar um toque doce.
Não poderia faltar o cuscuz. Há várias opções para escolher, incluindo vegetariano, frango (sem glúten), kafta, merguez ou cordeiro. E para aqueles que estão indecisos, a opção sem escolha coloca todos de acordo: o royal! O cardápio também oferece outros pratos, à base de sêmola: tigelas marroquinas ou ensopados, como frango com limão ou cordeiro com ameixas.
Para terminar com uma nota doce, experimente a tradicional chebakia, uma pequena massa com mel, ou o tiramisouk, um tiramisu revisitado com amlou, flor de laranjeira e amêndoas torradas.
Em termos de decoração, estamos bem no clima dos souks. A fachada é adornada com zelliges coloridos, pequenos pedaços de tijolos esmaltados. No interior, a cor dominante é o vermelho, e as paredes são forradas com caixas de Pepsi e Cola. O teto é coberto por tapetes de plástico, o que dá um toque autêntico e peculiar.
Bssha (bom apetite em marroquino)!

ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.