POR ALAIN ROUSSEAU
Esta é certamente uma das exposições mais fascinantes da temporada: “Au fil de l’or. L’art de se vêtir de l’Orient au Soleil-Levant”, (A arte de se vestir do Oriente ao Sol Nascente), no Musée du Quai Branly Jacques Chirac até 6 de julho.
Com mais de 200 peças, a exposição mostra como, desde as margens do Mediterrâneo até os confins da Ásia, as sociedades de todos os lugares usaram o mais precioso dos metais – o ouro – para criar tecidos de prestígio, desde os tempos antigos até os dias de hoje!
Descoberto há quase 7 mil anos, o ouro nunca deixou de fascinar a humanidade, atraída como um ímã por sua cor ensolarada e natureza extraterrestre: “Desde muito cedo, o ouro estava ligado à ideia de sagrado, preciosidade e riqueza”, confirma Magali An Berthon, curadora da exposição, em uma entrevista. “O fio de ouro expressa uma relação com o mundo, em sua estrutura social e cerimonial.
A exposição começa com uma seção histórica, arqueológica e técnica, antes de passar para cinco áreas geográficas e culturais!
Cada área é acompanhada por um vestido contemporâneo – muito impressionante em termos de volume e habilidade – do designer chinês Guo Pei. “Bolhas” temáticas, ou interlúdios, pontuam a exposição, convidando os visitantes a descobrir materiais que têm a cor do ouro, mas não são – seda marinha, seda nephil dourada de Madagascar (aranhas) e seda dourada do Camboja. A exposição termina com um enfoque no ouro do bordado francês e na famosa Maison Lesage.
TRAJES DE LUZ DOS PAÍSES DO MAGREBE!
Os trajes dessa primeira seção geográfica – casaco (caftan), túnica, calça, colete – testemunham o caldeirão cultural que caracteriza os países do Magrebe (Marrocos, Argélia, Tunísia). Essa região é caracterizada pelo gosto pelo esplendor.


Sob a dinastia almóada, as sedas bordadas em ouro eram produzidas em oficinas em Marrakech, no Marrocos, bem como em Málaga e Almeria, na Andaluzia.
Após a queda de Granada em 1492, os países do norte da África receberam exilados andaluzes, judeus e muçulmanos, que trouxeram consigo novos estilos de vestimenta e seu know-how.
A partir do século 16, a expansão do Império Otomano deixou sua marca nos trajes urbanos da região, que foram inspirados em modelos da Turquia.
TRAJES NO ORIENTE
A segunda seção é dedicada a uma vasta região que inclui o Egito, o Líbano, a Turquia, o Iraque, o Iêmen e o Irã. Desde a época da expansão muçulmana na Ásia e na África no século 7, o gosto pelo luxo e pelas roupas ricas se espalhou pelo Novo Reino.

Sob a dinastia abássida de Bagdá (750-1258), bem como sob a dinastia fatimida (969 e 1171) e os mamelucos do Egito (1250-1517), as oficinas de tecelagem produziam tecidos finos adornados com ouro, alguns dos quais eram usados para fazer roupas às mulheres de classe alta.
Esses tecidos de luxo eram importantes não apenas na Turquia otomana, mas também no Irã safávida (1501 a 1736) e no Irã Qajar (1786 a 1925).
VESTIDOS COLORIDOS DA PENÍNSULA ARÁBICA
A terceira seção é dedicada a uma região que se estende do coração da Arábia Saudita até os Emirados na costa leste da Península Arábica (Bahrein, Kuwait e Qatar).
Aqui estão vestidos para festas e casamentos que revelam uma influência indiana. Cortados em tule, damasco ou chiffon de seda com magníficos bordados dourados, eles compartilham as mesmas características: um corte largo, quase quadrado, com painéis laterais que se abrem para formar mangas amplas que cobrem a cabeça em um drapeado duplo.
Hoje, esses vestidos luminosos são o traje padrão usado pelas mulheres nessa área.
DRAPEADOS EM OURO DA ÁSIA
Esta quarta seção enfoca a arte do drapeado que é característica das sociedades do sul e do sudeste asiático. Para casamentos suntuosos, as mulheres indianas se adornam com os mais suntuosos sáris bordados com fios metálicos dourados.

Na Malásia e em Sumatra, na Indonésia, os songket, longos retângulos de seda bordados com ouro, são os preferidos para cerimônias tradicionais. Eles são usados como um sarongue na cintura, como uma estola assimétrica ou como um cocar amarrado na cabeça.
Por fim, no Camboja e no Laos, o ouro é usado para vestir membros da corte real, bem como dançarinos da corte e artistas de teatro, cujos trajes brilhantes bordados e tecidos com fios de ouro evocam divindades budistas e hindus.
TRAJES DE OURO E SEDA NO LESTE ASIÁTICO
A seção final viaja para a China e o Japão para explorar a história secular dessa combinação de ouro e tecidos. Na China, as primeiras sedas enfeitadas com ouro datam das dinastias Han e Jin (entre 206 a.C. e 420 d.C.). Fragmentos decorados com folhas de ouro desse período foram encontrados em Xinjiang.

Foi durante as dinastias Tang (618-907), Liao (907-1125) e Jin (1151-1234) que as sedas complexas tecidas com ouro se difundiram. O bordado com fio de ouro se desenvolveu nas oficinas imperiais a partir da dinastia Tang e prosperou até o século 19.
Aqui você pode admirar uma coleção de quimonos e cintos obi. Originalmente uma peça simples do cotidiano, o quimono tornou-se uma peça cerimonial extremamente sofisticada a partir da era Muromachi (1336-1573).
A partir da primeira metade do período Edo (1603-1867), os quimonos foram cobertos com ricos bordados dourados e motivos de folhas de ouro.
ALTA COSTURA FRANCESA


Finalmente, é a experiência francesa que está sendo exibida.
Esse know-how é herdado dos tecelões da Idade Média e de sua técnica de bordado em ouro nu. Essa técnica consiste em colocar fios de ouro em um fundo e depois cobri-los com pontos de seda coloridos.
Foi Charles Worth, o inventor da alta costura no século 19, que trouxe o ouro de volta à moda, principalmente com seu vestido para a Imperatriz da Áustria, a famosa Sisi, para quem ele fez um suntuoso vestido de tule de seda salpicado de ouro!
A alta costura francesa continua essa tradição e hoje se destaca por tecer e bordar metais preciosos em suas criações.

Veja os bordados da famosa casa de moda francesa Lesage, expostos nas vitrines da exposição, ou este vestido de noite criado por Karl Lagerfeld para a Chanel.
DESIGNER DE MODA CHINESA
Ao final de cada área geográfica, há um vestido contemporâneo desenhado pela designer de moda chinesa Guo Pei.
Pouco conhecida do público, foi em 1997 que ela montou o primeiro estúdio de costura na China: o Rose Studio, em Pequim, considerado o estúdio de costura mais profissional e influente do país.
Apaixonada pela alta costura e fascinada pelo know-how e pela excelência da tradição artesanal, ela sublimou esse ofício em suas criações e se inspirou nos bordados tradicionais chineses.

Em 2006, ela participou da Chinese Fashion Week e apresentou um vestido bordado com fios de ouro e pérolas que levou 50 mil horas para ser confeccionado. Seu desfile Reincarnation em 2007 ganhou o prêmio de Melhor Vestido. Em 2016, ela se tornou membro convidado da alta costura parisiense e, em janeiro de 2017, apresentou um desfile espetacular e criativo inspirado nos afrescos da cúpula da Catedral de St Gallen. A coleção Legend para a primavera-verão de 2017 levou dois anos para ser preparada.

ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.