Dificilmente vamos esquecer este abril de 2019, quando o fantasma da censura, ameaçando a liberdade de expressão, voltou a assombrar os brasileiros, agora em uma escala bem maior porque temos as mídias sociais.
Em uma sucessão de ações controversas, o ministro Alexandre de Moraes do STF mandou retirar do ar uma matéria exclusiva O amigo do amigo de meu pai da revista online Crusoé e os posts do site O Antagonista sobre o assunto. A decisão foi revogada nesta quinta-feira, 18, véspera de Sexta-Feira Santa.
A matéria foi baseada em um documento anexado a processo da Polícia Federal, onde o nome de Dias Toffoli, presidente do STF, aparecia em uma suposta lista de propinas da Odebrechet, segundo o email que Marcelo Odebrechet enviou à Lava-Jato.
Além de censurar a matéria, classificando-a de fake news, e multar o site em R$ 120 mil, Moraes ordenou ações de apreensão e busca na casa de algumas pessoas que estavam sendo investigadas por divulgar, segundo a avaliação do STF, mensagens de ódio contra a Corte.
O ministro mandou ainda bloquear todas as contas nas redes sociais e o Whatsapp dos “investigados”, atitudes incompatíveis com a Constituição, que garante liberdade de imprensa e de expressão a todos os brasileiros.
A surpresa foi tamanha que fizeram apreensão e busca na casa do general da reserva Paulo Chagas, que tem centenas de seguidores no Twitter e fala duro quando precisa.
Ele não estava quando a polícia chegou e ainda fez um post divertido no Twitter. “Caros amigos, acabo de ser honrado com a visita da Polícia Federal em minha residência, com mandado expedido por ninguém menos do que o ministro Alexandre de Moraes. Quanta honra”, escreveu.
Mas, o seu laptop foi apreendido (ele não o usava há três anos) e os amigos militares não gostaram nada da história. O general levou no deboche. “Achei tudo uma palhaçada”, disse em entrevista à Jovem Pan.
A partir daí, parlamentares, jornalistas, associações de classe e praticamente todos os setores entraram em ebulição. Choveram protestos, manifestações e indignações. O ministro Sergio Moro recrutou os soldados da Força Nacional para proteger a Esplanada dos Ministérios. Eles ficarão lá por 33 dias.
Era novamente a sociedade se unindo por uma causa única: a liberdade de imprensa, mas agora em uma situação inversa à dos anos de chumbo. Os próprios militares e o presidente Jair Bolsonaro vieram à público para defender a democracia e a liberdade de imprensa.
No final da tarde de quinta-feira, o ministro recuou, retirando a censura à revista e ao site. E no início da tarde desta sexta-feira a matéria voltou a ser publicada pela Crusoé, ficando aberta também aos não assinantes.
Porém, o inquérito aberto para investigar quem critica o STF nas mídias sociais continua e alguns investigados (menos o general) também permanecem com suas mídias sociais bloqueadas. A ameça paira no ar.
Portanto, fiquem atentos às suas mídias sociais. A temperatura política está subindo e o jogo do poder é pesado, tanto online quanto offline.
Juristas e advogados continuam dando entrevistas sobre a inconstitucionalidade do inquérito, defendendo que também seja revogado. E entre os brasileiros surge um desconforto pelo fato de não sabermos quem será o próximo a receber a visita da PF em casa.
Várias contas do Twitter favoráveis ao governo têm sido derrubadas ou hackeadas diariamente. Os internautas são chamados de “robôs” ou “milícias digitais” de extrema direita.
No Facebook, posts e vídeos desaparecem do nada. O mesmo acontece com alguns comentários. Em outras palavras: estamos sendo, sim, monitorados.
Qual será o próximo capítulo?