POR ALAIN ROUSSEAU
Por ocasião da temporada França-Brasil 2025, que celebra o bicentenário das relações diplomáticas entre os dois países, a plataforma ABERTO, que visa promover a arquitetura, a arte e o design brasileiros, expõe 35 obras de artistas modernistas e contemporâneos em um cenário prestigioso e pouco conhecido: a Maison La Roche, de Le Corbusier, no elegante 16º arrondissement.

A exposição Le Brésil après le Corbusier (O Brasil após Le Corbusier) pretende destacar os laços entre Le Corbusier e este país. Fiz uma visita privilegiada esta manhã, quase sozinho a este local normalmente fechado ao público, devido ao feriado de Corpus Cristi. É uma pena que o evento vai terminar em 8 de junho.
INFLUÊNCIA NA ARQUITETURA BRASILEIRA
Le Corbusier e o Brasil têm uma espécie de história de amor, e sua influência é fundamental para a arquitetura moderna do país. O suíço visitou o país nada menos que três vezes e, naturalmente, deixou sua marca, contribuindo para o desenvolvimento do modernismo brasileiro.
Ao longo de sua vida, Le Corbusier foi próximo de Lucia Costa e Oscar Niemeyer. Em 1936, durante sua segunda viagem ao Brasil, ele se dedicou com eles a dois grandes projetos: a Cidade Universitária do Rio de Janeiro e o Ministério da Educação Nacional e da Saúde, para o qual forneceu as primeiras plantas a Costa. Niemeyer e Le Corbusier se reencontraram alguns anos mais tarde, na equipe de dez arquitetos internacionais liderada por Wallace K. Harrison, para projetar a sede das Nações Unidas em Nova York (1948-1952), considerada até hoje um monumento imperdível da cidade.
A partir dos esboços preliminares do anteprojeto fornecidos por Lucio Costa, Le Corbusier elaborou as plantas da Casa do Brasil (1952-1959) dentro do bastião utópico que é a Cité Internationale Universitaire de Paris. Este emblema da arquitetura moderna está hoje inscrito como monumento histórico.
OBRAS INÉDITAS


Por ocasião da exposição e inspirando-se no local, foram criadas obras exclusivas para esta exposição. Logo na entrada há uma tela de Luiz Zerbini na qual uma vegetação tropical exuberante se entrelaça com formas geométricas que lembram a arquitetura modernista.
Inspirado pela Unidade de Habitação construída em Marselha (1945-1952), Antonio Tarsis revela uma nova criação de sua famosa série de obras feitas a partir de caixas de fósforos provenientes das favelas de Salvador. Uma tela de Juan Araujo retrata a cúpula da sede do Partido Comunista Francês, projetada por Oscar Niemeyer em Paris (1968-1971). Ela está exposta ao lado de uma edição limitada em vermelho do famoso banco Marquesa de Oscar Niemeyer — uma referência à proximidade deste último com Le Corbusier e o Partido Comunista.

Outras obras, como uma colagem de Beatriz Milhazes, destacam a vivacidade e a amplitude poética do trabalho desenhado de Le Corbusier. A arquitetura e a policromia da Maison La Roche são o ponto de partida para outras criações, como uma pintura de Marina Perez Simão, que está exposta na sala de jantar. Da mesma forma, uma composição abstrata de Luísa Matsushita evoca o contraste entre as
formas orgânicas e as cores utilizadas na casa por Le Corbusier e as linhas octogonais do edifício.

Segundo a curadora Claudia Moreira Salles, “um elemento essencial da arquitetura de Le Corbusier, em particular da Maison La Roche, é o uso das cores para acentuar a percepção dos espaços. Levando em conta esse diálogo cromático, selecionamos obras que reforçam a expressão policromática de cada sala.“

MAISON LA ROCHE
É um endereço quase secreto, pouco conhecido dos parisienses. Situada no coração do valorizado bairro de Passy (uma versão parisiense do Jardim América, em São Paulo), no final de uma discreta rua sem saída ladeada por construções neo-haussmannianas, a Maison La Roche é uma pequena joia da arquitetura moderna. Construída em 1925 por Le Corbusier e Pierre Jeanneret para seu compatriota Raoul Albert La Roche, um rico banqueiro e colecionador originário de Basileia, ela fica ao lado de outra casa erguida pelo famoso arquiteto para seu irmão músico, que hoje abriga a Fundação Le Corbusier. A Maison La Roche “é destinada a um solteiro proprietário de uma coleção de pinturas”, Le Corbusier.

ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.