ALAIN EM PARIS: BAIRRO ‘SECRETO’ RECHEADO DE ROMANCE, HISTÓRIA E ARTE!

Por ALAIN ROUSSEAU

Na semana passada, recebi a visita do meu amigo Jonatha, do Rio de Janeiro. E ele me fez o pedido mais difícil que um amigo estrangeiro poderia fazer a um parisiense: mostre-me um bairro que eu não Conheça, que seja interessante e onde os turistas não vão!
Isso é tudo!
Depois de um leve momento de surpresa, pensei um pouco.
Conhecendo os gostos do Jonatha, eu precisava de um pouco de história, um pouco de
romance (Paris é a cidade do amor, não é?), e de um lugar para fazer uma pausa.
Vamos lá!
Embarque para a Nouvelle Athènes – sim, você leu certo, estou falando de um bairro chamado Nova Atenas, como a capital da Grécia, bem no centro de Paris.

UM POUCO DE HISTÓRIA

La Nouvelle Athènes tem várias ruas entre a Place Blanche e a igreja de Notre-Dame-de-Lorette, no 9º arrondissement, entre os Grands Boulevards e Montmartre. O nome foi dado pelo jornalista Dureau de la Malle (em 18 de outubro de 1823) a um conjunto habitacional construído no início do século 19, nas encostas do distrito de Saint-Georges.

Ele se refere ao sentimento grego predominante – a Guerra da Independência grega contra o Império Otomano, em 1821, inspirou um certo filotelismo e contribuiu para a adoção do nome desse novo distrito. Os arquitetos que construíram as mansões majestosas e os edifícios patrícios, entre 1820 e 1860, que por muito tempo abrigaram uma nova “República das artes e das letras”, também contribuíram para isso. Essa república reuniu no distrito as figuras mais ilustres do movimento romântico da época.

Era frequentado por pintores famosos como Delacroix, Géricault e, mais tarde, Monet e Van Gogh, músicos como Chopin e sua amante, o escritor Georges Sand, bem como Alexandre Dumas, o pai
dos Três Mosqueteiros, e Victor Hugo. Além dos atores e atrizes de sucesso, como Talma, Pauline Viardot e Mademoiselle Mars.

RUA DOS ATORES

Na Rue de la Tour-des-Dames, os palacetes do estilo Restauration são exemplos notáveis da arquitetura parisiense neoclássica. Eles foram construídos por arquitetos treinados na Ecole des Beaux-Arts e inspirados em modelos antigos e edifícios renascentistas. Esse é o verdadeiro coração de Nouvelle Athènes. É também a rua das estrelas de teatro e ópera do período.

Já em 1820, Talma, o famoso tragediógrafo, fez com que Charles Lelong construísse para ele o hotel no número 9, para o qual Delacroix decorou a sala de jantar. Adorado por toda Paris, o famoso tragediógrafo do Théâtre-Français ensaiava seus papéis aqui, em frente a vários espelhos em um salão com vista para o jardim.

Igualmente aclamada, a senhorita Duchesnois viveu mais discretamente a partir de 1822 em sua mansão no nº 3, cuja fachada em arco recuado, projetada pelo arquiteto Constantin, aluno de Percier e Fontaine, ilumina a rua com um pátio de honra em miniatura. Em 1824, sua vizinha e amiga, a lendária atriz Mademoiselle Mars, estava no auge de uma carreira que, com mais 45 anos, a fez brilhar em papéis femininos jovens.

Ela tinha bom gosto e dinheiro: o hotel construído no número 1 da mesma rua por Constantin em 1820, que depois foi modificado por Visconti, era palco de festas suntuosas. Também no número 4: o Hôtel do Cambaceres no meio de um parque incrível.

No número 13: o endereço de infância de um certo Jean-Philippe Smet, mais conhecido
como Johnny Hallyday, o Roberto Carlos francês.

RUA DOS PINTORES

Notre Dame de Lorette: Eugène Delacroix instalou seu estúdio e apartamento no nº 58. Na época, a casa tinha apenas a largura da porta da frente e estava disposta em ângulos retos em ambos os lados do pátio. Delacroix não estava lá há quatro anos quando Paul Gauguin, o impressionista e pintor do Taiti, nasceu na casa vizinha, no número 56. No nº 49, Camille Pissarro, um dos precursores dos Impressionistas, passou a residir lá, em 1856.

CHÁ NO MUSEU

Faça uma parada em um dos museus mais charmosos e secretos de Paris: o Musée de la Vie Romantique, na rue Chaptal, 16. Originalmente, era a antiga casa do pintor holandês Ary Scheffer, que durante a primeira parte do século 19 reuniu a elite da “República das Artes e das Letras”.

Hoje, reformado no estilo do século 19 pelo decorador Jacques Garcia, que também decorou o Hôtel Costes, ele abriga exposições – não perca a exposição atual sobre cavalos nas pinturas de Géricault.

Acima de tudo, ele esconde um salão de chá muito bonito, a Rose Bakery, onde você pode descansar e apreciar o terraço do museu em dias ensolarados: o campo em Paris.

HOTEL MAIS SAFADO DE PARIS

Não muito longe daqui, abriu suas portas o Hôtel Amour, o mais safado da cidade luz, onde amantes,
declarados ou não, se encontram.

Não é de surpreender, pois antes de ser um hotel comprado pela família Costes, era um lugar, onde no século 19 as lorettes, “demi-mondaines” (para dizer de forma educada) com uma perna frequentemente leve, oficiavam. Em frente, no número 9, havia um bordel famoso, o Madame Christine.

Agora é um dos lugares para se estar, com seu restaurante em estilo bistrô dos anos 1950, com seus banquetes no céu e sua grande varanda nos fundos, onde pequenas mesas estão espalhadas em meio a uma vegetação generosa.

E vou deixar você descobrir os quartos, todos decorados por artistas (André, Marc Newson, Sophie Calle, Pierre Le Tan, Alex de Betak, M/M, Para, etc.), todos diferentes e muitas vezes chamativos (laranja, vermelho, azul brilhante, rosa doce).