POR ALAIN ROUSSEAU
Paul Landowski, o escultor do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, deu seu nome a um museu que é injustamente esquecido, e único em seu gênero.
É em Boulogne, uma comuna nos arredores de Paris (pode chegar lá pelas linhas 9 ou 10 do metrô), onde ele viveu até sua morte, que você pode visitar esse lugar único, que reúne 14 mil obras, entre pinturas, esculturas, móveis, planos arquitetônicos etc.
UM POUCO DE HISTÓRIA!
Não é por acaso que o Museu Paul Landovski foi criado em Boulogne. Juntamente com o distrito de Montparnasse, a comuna foi um dos principais centros de criação artística na década de 1930. Diante da crise habitacional da época, várias residências de artistas e estúdios foram instalados em Boulogne na década de 1930, abrigando alguns dos maiores nomes da arte moderna, como Lipchitz, Landowski, Souverbie, Volovick, Gentil, Bourdet e Huré.
Dado o número de obras legadas à cidade, ficou claro que havia a necessidade de criar um local que pudesse mostrar as diferentes facetas da arte da década de 1930, que muitas vezes é relegada ao modernismo ou à Art Déco.
Isso foi alcançado em 1998 com a abertura desse espaço de 3 mil m² distribuídos em três andares. Como é difícil cobrir todas as riquezas do museu nesta coluna, darei a você minhas três principais escolhas e o convidarei a visitá-lo na próxima vez que estiver em Paris.
COLEÇÃO LANDOVSKI
Paul Landovski não é apenas o escultor do Cristo Redentor no Rio. Antes de tudo, ele recebeu o Grand Prix de Rome para escultura em 1900, o que lhe permitiu esculpir estátuas monumentais como Les Fantômes (1935), oito gigantes de granito de 8 metros de altura instalados no Butte de Chalmont, no leste da França, para comemorar a vitória dos Aliados na Primeira Guerra Mundial.
Ele também produziu pequenas estátuas, como Soun, danseuse sacrée (1912) e La danse de la séduction (1947).
Mas a obra de sua vida, infelizmente nunca construída, foi o Templo do Homem. Esse projeto foi planejado para ser um local de meditação, recebendo eventos públicos, shows e congressos internacionais. Sua decoração esculpida retratava a história da humanidade em baixo relevo e em formato redondo. Era para ser uma extensão da Champs-Élysées, entre Porte Maillot e La Défense.
Ah, esqueci; é nesse espaço que está guardado o primeiro modelo do Cristo Redentor, que foi feito em seu estúdio em Boulogne. Em seguida, ele fez um modelo de 4 metros e esculpiu a cabeça e as mãos em tamanho real, que foram transportadas de barco para o Rio de Janeiro.
O modelo foi então ampliado em concreto reforçado para atingir os atuais 30 metros e foi sustentado por uma estrutura metálica projetada por outro francês, o engenheiro Albert Caquot.
MÓVEIS DA DÉCADA DE 1930
O design de interiores da década de 1930 é frequentemente descrito como um dos grandes momentos de refinamento e luxo, principalmente na França.
As linhas limpas, as cores aveludadas e os materiais suntuosos criaram uma estética que continua sendo uma fonte inesgotável de inspiração até hoje.
Usando materiais preciosos, como o pallissandre ( jacarandá), seda e veludo, os móveis trouxeram suavidade e luxo aos interiores. O aço, a personificação da modernidade, acrescentou um toque contemporâneo, destacando os detalhes arquitetônicos. Cores ricas e profundas, como azul-marinho, verde-esmeralda e bordô, deram um toque de sofisticação.
Os móveis eram caracterizados por formas angulares e esculturais, enquanto os tecidos apresentavam padrões geométricos ou abstratos.
Os nomes de Robert Mallet-Stevens, Charlotte Perriand (que viveu parte de sua vida no Rio), René Herbst e Jean Prouvé são apenas alguns dos grandes designers, sem esquecer Jacques-Émile Ruhlmann, o mais luxuoso de todos.
ARTE ANIMAL
Iniciada no começo do século 20 por François Pompon, a arte animal floresceu especialmente entre as guerras. Isso é demonstrado no último andar do museu, com as panteras de Paul Jouve caminhando despreocupadamente ou devorando uma cobra no extraordinário mosaico de 300 kg, o Corvo de Edouard-Marcel Sandoz ao lado das raposas africanas de Jacques Dulau e o Oran-outang de Paul Simon. Tudo é um pretexto para destacar o animal, até mesmo a lendária tampa do radiador do carro Bugatti!
TOUR PELOS ANOS 1930
Se quiser ampliar sua descoberta da década de 1930, a prefeitura de Boulogne criou três itinerários, suas rotas dos anos 30. Graças a um arquivo de áudio que pode ser baixado ou a um guia impresso, você pode seguir as placas para descobrir os vários pontos de interesse. Um dos destaques é o edifício Molitor de Le Corbusier, Patrimônio Mundial da UNESCO, juntamente com outros edifícios do arquiteto. Sem esquecer as criações de Mallet-Stevens, Perret e Lurçat.
Aproveite o passeio!
ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.