Alain em Paris: NOS BASTIDORES LUXUOSOS DA MONARQUIA FRANCESA!

Exposição inédita exibe, com pompa e circunstância 200 anos depois, a chegada ao trono de Carlos X, o último rei a ser coroado no país. A mostra vai até 20 de julho!

POR ALAIN ROUSSEAU

Estou muito feliz por estar de volta com vocês depois de uma pequena cirurgia, na semana passada, que correu muito bem.

Nesta semana, vou levá-los a um passeio pela exposição mais incomum em Paris nesta primavera: a reconstrução da ultima coroação de um rei francês!

Duzentos anos após a coroação de Carlos X, em 29 de maio de 1825, na catedral de Reims (a igreja onde todos os reis da França são coroados), a Galerie des Gobelins – Mobilier National está levando os visitantes aos bastidores dos preparativos para a suntuosa cerimônia da Última Coroação Francesa. A exposição vai até 20 de julho.

Galerie des Gobelins – Mobilier National, Paris Foto Alain Rousseau

Pela primeira vez desde 1825, a galeria reuniu móveis e ornamentos de vários museus e coleções particulares, colecionadores e herdeiros das personalidades que participaram do evento.

A exposição é organizada pelo anfitrião Stéphane Bern, especialista em história da França e das monarquias europeias, auxiliado pelo grande decorador Jacques Garcia, que decorou os hotéis Costes e Royal Monceau, em Paris; o Danieli, em Veneza; e a butique Ladurée, na Champs-Elysées.

Além de evocar um evento histórico e espetacular, essa exposição também é uma vitrine para as habilidades virtuosas dos artesãos franceses do início do século 19, que continuam até hoje.

Vamos conhecer alguns dos destaques da mostra.

FUNERAL DO REIO LUÍS XVIII

O funeral do rei Luís XVIII abre a exposição Foto Alain Rousseau

A exposição começa com uma reconstrução do funeral do rei Luís XVIII, irmão e antecessor de Carlos X.

Pela última vez, seu funeral reviveu o antigo e suntuoso cerimonial dos funerais reais. As abóbadas da Basílica de Saint-Denis (o equivalente à Catedral de Saint-Pierre-d’Alcántara, em Petrópolis, no Rio de Janeiro), onde os reis da França são tradicionalmente enterrados, ressoaram com o famoso grito: “O rei está morto; viva o rei”, o símbolo da monarquia francesa.

CARRUAGEM LUXUOSA

Foto Alain Rousseau

Viajar para Reims significava construir uma carruagem e organizar um comboio de prestígio. Os melhores artesãos parisienses – o construtor de carrocerias Daldringen, o escultor Roguier e o fabricante de bronzes Denière – foram, portanto, contratados para criar uma carruagem de dimensões extraordinárias, cujos dourados e bronzes onipresentes foram projetados para impressionar as multidões e garantir a pompa do rei. Suntuosos arreios, adornados com enfeites luxuosos, foram feitos pelo seleiro Gobert para os oito cavalos.

Sob a autoridade do premier écuyer – o duc de Polignac – e do écuyer commandant – o marquês de Vernon – a carruagem real e cinco outras carruagens, precedidas e seguidas por 179 cavalos, formaram uma procissão espetacular quando o soberano entrou na cidade de Reims, em 28 de maio de 1825. Essa procissão foi reformada em 6 de junho, após a coroação, para a entrada solene do rei em Paris.

UM APARTAMENTO PARA O REI

A cama do rei Foto Alain Rousseau

O palácio arquiepiscopal de Reims, conhecido como Palais du Tau, foi escolhido para abrigar o rei e sua corte antes e depois da cerimônia. Mal conservado desde a Revolução, ele precisava de uma grande reforma, que foi realizada em ritmo acelerado pelo arquiteto François Mazois.

Ciente das dificuldades organizacionais, mas inflexível quanto à data do evento, o rei Carlos X foi citado como tendo dito:

Se os apartamentos não estiverem prontos, eu acamparei; se as cozinhas não estiverem prontas, eu jejuarei; mas o dia é irrevogável.”

Finalmente, o le Garde-Meuble de la Couronne (ministério responsável para os móveis dos palácios da realeza) equipou todos os apartamentos dentro do prazo. Para economizar dinheiro, os móveis necessários foram trazidos de outras residências reais, como Fontainebleau e o Palácio do Eliseu. Ao descobrir o palácio reformado, Carlos X exclamou: “Estou aqui como se estivesse nas Tuileries!”

COROAÇÃO REAL

O trono do rei Foto Alain Rousseau

A coroação ocorreu no domingo, 29 de maio de 1825. Projetada pelos arquitetos Hittorff e Lecointe, a decoração da catedral de Reims foi confiada a Pierre-Luc Cicéri e Antoine-Marie Lebe-Gigun. Ela consiste em grandes telas pintadas, esticadas em molduras, representando em cenários neogóticos as figuras dos reis da França, de Clóvis a Luís XVIII.

A cerimônia começa às 8h, ao som de música composta por Jean-François Lesueur e Luigi Cherubini. Chegando em procissão do Palais du Tau, o rei faz os juramentos rituais e, em seguida, recebe um par de esporas e uma espada. Em seguida, o arcebispo de Reims, Dom de Latil, unge-o com o óleo da ampola sagrada e o presenteia com o manto de flor-de-lis, o anel, o cetro, a mão da justiça e a coroa. Por fim, o rei sobe no biombo para ser aclamado.

A coroação de um rei francês é uma cerimônia codificada na qual cada participante desempenha um papel simbólico, identificável pelos espectadores.

O manto do rei Foto Alain Rousseau

Todos usam insígnias diferentes, que remontam ao Ancien Régime e, às vezes, à Idade Média. Os objetos mais significativos são os do rei: a coroa, o cetro, um sinal de poder, e a mão da justiça, um símbolo de autoridade judicial. Destruídos durante a Revolução Francesa, esses objetos foram recriados para a coroação de Napoleão I, em 1804, e reutilizados por Carlos X.

Dizem que foi aqui em Reims e nessa cerimônia de coroação que Victor Hugo teve a ideia de escrever sua obra-prima Notre-Dame de Paris.

UM BANQUETE PARA O REI

O banquete que segue a coroação ocorre no Grande Salão do Palácio Tau. Ele reúne o rei e os principais participantes da cerimônia. Dura apenas 30 minutos, quando o rei se retira para seus apartamentos para almoçar com sua família.

Acompanhado por música tocada em uma tribuna, o serviço foi conduzido pelo Conde de Cossé-Brissac, o primeiro maître de l’Hôtel do rei. Oito pratos foram servidos ao mesmo tempo, a escolha dos convidados; isso era conhecido como serviço “ambíguo”. As mesas eram equipadas com louças de porcelana de Sèvres, copos de cristal Montcenis, talheres de prata e centros de mesa de bronze dourado emprestados das Tulherias, complementados por novas encomendas, exibindo louças francesas.

Ao mesmo tempo, outras refeições oficiais foram realizadas na prefeitura e na câmara municipal. Durante a residência de cinco dias de Carlos X em Reims, estima-se que mais de 7 mil pratos foram servidos à custa do rei.

A MANUFATURA DE GOBELINS

Formalmente criada em abril de 1601 pelo rei Henrique IV, tornou-se famosa em 1663 com o impulso dado pelo rei Luís XIV e recebeu o nome de “Manufacture royale des Gobelins” (Manufatura real de Gobelins).

Rapidamente, ela se tornou o centro de todos os artesanatos e designs franceses, dos quais as grandes casas de luxo francesas herdaram sua herança.

Foi aqui, por exemplo, que o Château de Versailles foi mobiliado.

Hoje, a Manufacture des Gobelin – Mobilier national cria e restaura dezenas de milhares de peças de mobiliário e objetos usados para mobiliar e decorar edifícios públicos na França e em embaixadas francesas no exterior.

Ela emprega mais de 340 homens e mulheres, todos artesãos experientes em suas especialidades.

ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.

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