POR ALAIN ROUSSEAU
Enquanto o Brasil é conhecido por suas carnes e churrascarias, a França é o país da Europa que mais consome carne bovina. Para 88% dos franceses, a carne é sinônimo de convívio e de compartilhamento, segundo a pesquisa de Occurence de 2020.
Ao mesmo tempo, diante de consumidores cada vez mais exigentes, a Europa desenvolveu selos de qualidade para monitorar as condições de produção e fabricação. Esses são os famosos rótulos AOC (Appellation d’origine contrôlée) ou AOP (Appellation d’origine protégée), que organizam todas as etapas da produção de acordo com um know-how reconhecido e dentro da mesma área geográfica.
Em resposta a essa demanda por qualidade e convívio, novos templos de carne têm sido abertos em Paris nos últimos anos. Aqui, você vai conhecer quatro endereços incríveis.
BEM-VINDO AO GUEULETON BONS VIVANTS
Um gueuleton, em francês, é uma refeição muito boa, farta e, muitas vezes, alegre.
Foi com essa definição em mente que três amigos do sudoeste da França, unidos pela mesma paixão por gastronomia e produtos locais, decidiram transformar sua paixão em uma aventura empresarial para ser compartilhada para o maior número possível de pessoas. Assim, nasceu o Gueuleton.
Em 2013, eles abriram o primeiro Gueuleton, em Agen, na região de Aquitaine, no sudoeste da França. No cardápio: vinho, charcutaria e queijo, harmonizados com aperitivos clássicos, que agora fazem parte do DNA da marca.
Hoje, o Gueuleton é uma família com mais de 20 restaurantes em toda a França, incluindo dois em Paris, um no 17º arrondissement e o mais recente, inaugurado há poucos meses no coração de Saint Germain des Près, a poucos passos da igreja de Saint Sulpice.
No cardápio: charcutaria fina, queijos autênticos, cortes de carne saborosos, como suculentas costelas de boi e carnes maturadas, bem como os grandes clássicos da culinária francesa revisitados. Cuidado, as porções são gigantes!
UNICO, UM PEDAÇO DA ARGENTINA
A carne invariavelmente traz a Argentina à mente. Foi no lugar de um antigo açougue, na rue Paul Bert, no 11º arrondissement, que o restaurante Unico foi aberto em 2006. Inspirado na mais pura tradição do design dos anos 1970, o local é coberto por azulejos laranja e luminárias vintage. A câmara fria agora abriga… os banheiros!
O antigo açougue foi transformado em um restaurante argentino aconchegante e moderno, com a ambição de servir a melhor carne de Paris. Tudo aqui é argentino: a carne, o chef, as facas e até o carvão!
O cardápio inclui empanadas, ossos de tutano cozidos em carvão, carpaccio de filé de boi argentino marinado, abacate, peixe e cebola roxa, bife de costela, bife de lombo, picanha, bife de flanco, sem esquecer a boa adega argentina!
BIDOCHE, O RESTAURANTE DO AÇOUGUEIRO
A casa é, antes de tudo, a história de Alexandre que, depois de estudar em uma escola de administração, foi trabalhar para um banco francês em Nova York, voltou para a França e decidiu mudar de carreira atuando em um campo pelo qual era apaixonado: a gastronomia.
Alexandre decidiu se formar como açougueiro. Depois de treinar com os melhores técnicos de carne de Paris, ele decidiu lançar seu próprio negócio: nasceu a Bidoche!
A Bidoche é, antes de tudo, um açougue com uma forte filosofia: carne de qualidade superior, um relacionamento direto com os fazendeiros e métodos de criação que respeitam o bem-estar do animal.
Na verdade, é preciso passar pelo açougue para chegar ao restaurante, que fica escondido atrás dele.
O resultado são carnes de primeira qualidade que, às vezes, não se encontram em nenhum outro lugar, como a raça Bazadaise (perto de Bordeaux), que se caracteriza por um grão de carne extremamente fino.
Para acompanhar, há toda uma seleção de vinhos de produtores pouco conhecidos de todos os terroirs.
BRUTOS, CHURRASCO BRASILEIRO EM PARIS
Por último, mas não menos importante, o Brutos, um restaurante aberto pelo casal brasileiro Ninon e Lucas. Se o nome pode assustar, a culinária é suave, com carnes cozidas em fogo de lenha.
No cardápio: croquetes de carne defumada, pimentão doce e molho de goiaba: bonitos e crocantes. Pão de ló de vitela, molho chimichuri: um belo pedaço de carne, cozido com perfeição. Chocolate brasileiro, cachaça e vinhos naturais. E não se esqueça do clássico frango assado no almoço de domingo!
Menção especial para o atendimento simpático e sorridente… como no Brasil.
DICA IMPORTANTE
Ao contrário do Brasil, a carne na França é consumida saignante (mal passada) ou até mesmo bleue (azul), ou seja, ainda menos cozida. Se quiser sua carne no ponto, peça très cuite.
VOCÊ SABIA?
O Rolls Royce das facas para carne é francês: a Laguiole. Nascida em 1829 em um pequeno vilarejo no centro da França, essa faca de excelência conquistou as melhores mesas e ainda é fabricada pela mesma família, os Calmels!
Ela pode ser reconhecida por sua famosa abelha, um símbolo de prestígio e qualidade.
Se você tiver a sorte de ganhar uma faca Laguiole, a tradição diz que você deve pagar uma moeda à pessoa que lhe deu a faca para preservar o vínculo de amor ou amizade que os une.
ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.