Por Alain Rousseau
Com a volta do sol, o que poderia ser mais agradável em Paris do que dar um passeio – os franceses dizem se balader – e admirar a arquitetura dos séculos?
Há algo para todos os gostos: a Idade Média, com a Notre Dame e os vitrais da Sainte Chapelle; o Grand siècle e a Era do Iluminismo, com os palacetes do Marais e do Boulevard Saint Germain.
E sem esquecer a Paris de Hausmann, que foi exportada para muitas cidades sul-americanas no século 19, como ainda pode ser visto no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, ou nos muitos edifícios no centro de Santiago do Chile e, por último, mas não menos importante, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, fortemente inspirado na Ópera Garnier.
Esta semana vou levá-lo a um passeio menos conhecido pela Paris da Belle Epoque, no início do século 20, com a chegada da Art Nouveau.
Antes de tudo, um pouco de história.
Nascido na Inglaterra na década de 1860, o estilo Art Nouveau tem suas raízes no movimento Arts & Crafts. Ele foi associado a um desejo de retorno ao artesanato, uma reavaliação do valor do trabalho manual e à criação de objetos bonitos e utilitários. De certa forma, foi o surgimento do design que se expressou por meio desse movimento.
Ele se difundiu até a Primeira Guerra Mundial nas principais capitais europeias, com arquitetos como Horta, em Bruxelas, Gaudi, em Barcelona, ou em Viena, com o movimento Secessão e pintores como Klimt.
Na França, a Art Nouveau surgiu no início da década de 1890 e foi rapidamente apelidada de estilo macarrão devido à preferência dada aos arabescos em vez das linhas retas. O movimento afetou principalmente a arquitetura e os objetos de design de interiores, como móveis e artigos de vidro.
Reagindo ao rigor do estilo de Haussmann, caracterizou-se por formas exuberantes, curvas e assimetrias inventivas, ritmos, motivos emprestados da natureza (flora e fauna), arabescos e decorações coloridas.
ROTEIRO EM CINCO PARADAS
Estações de metrô de Hector Guimard
O arquiteto Art Nouveau mais conhecido de Paris é Hector Guimard, que talvez você já conheça sem saber…
E, sim, foi ele quem criou o estilo incomparável das entradas do metrô – les bouches, como se diz por aqui. Ele construiu aediculae (pequenas estruturas isoladas no espaço público), usando materiais que eram novidade na época, como ferro fundido para a estrutura, pedra para a base e vidro para o telhado. Tudo com decorações de plantas que, às vezes, nos lembram plantas carnívoras.
Arquitetura da Avenue Rapp
Siga para a Avenue Rapp, no chiquérrimo 7º arrondissement, que passa ao lado da Torre Eiffel e o leva ao Musée Jaques Chirac des Arts Premiers (que atualmente abriga uma excelente exposição sobre as descobertas do Templo Mayor na Cidade do México).
Sua primeira parada é no número 29 para admirar o edifício Lavirotte, que leva o nome de seu arquiteto.
As curvas e a exuberância assimétrica são imediatamente aparentes. Suas estruturas elaboradas e ricamente ornamentadas se distinguem por suas abundantes decorações em grés flamejante criadas em colaboração com Alexandre Bigot, o ceramista do estilo moderno, bem como pelo uso original do concreto.
Suba a avenida até a Square Rapp e pare em frente ao número 3. Esse é outro edifício do arquiteto Jules Lavirotte, que instalou seu escritório aqui. É um pouco mais discreto do que o anterior, mas ainda tem a assinatura do uso de concreto combinado com arenito flamejado.
Shopping na La Samaritaine
Emblemática do início do século 20, essa loja de departamentos foi reaberta em 2021 após 15 anos de trabalho e 1 bilhão de euros investidos por Bernard Arnault, o proprietário do Grupo LVMH.
Todo o charme da Belle Epoque foi revivido, incluindo o afresco de pavão de Francis Jourdain, filho do arquiteto do edifício, sob o telhado de vidro no último andar.
Esse é um ótimo lugar para encontrar todas as marcas mais recentes, sem esquecer de um andar inteiro reservado para sapatos femininos!
Almoço no Bouillon Chartier na 7 rue du faubourg Montmartre
Originalmente um restaurante popular conhecido como bouillon, oferecia um cardápio exclusivo baseado em carne cozida servida com uma tigela de caldo, daí o nome do estabelecimento.
Hoje você encontrará os pratos franceses mais tradicionais: ovos maioneses, terrine de campagne, blanquette de veau, petit salé aux lentilles. Sem esquecer as sobremesas, como mousse de chocolate e arroz doce.
Tudo isso servido em um ambiente que não mudou em 120 anos, com seu bar de cobre e uma vasta sala de jantar com toalhas de mesa de papel branco nas quais os garçons escrevem a conta.
Uma conta que permanece fiel à promessa original de oferecer “refeições quentes a preços moderados” para todos.
Estúdios de artistas em Montparnasse
Para digerir e terminar nosso passeio, vamos parar na rue Campagne Première, 31, no bairro de Montparnasse, a poucos passos da Fondation Cartier.
Aqui descobrimos uma coleção de estúdios de artistas de alto nível, projetados por André Arfvidson em 1911. Ele tem uma estética Art Nouveau, mas com várias mudanças, incluindo imponentes janelas em arco e uma decoração atípica de cerâmica com uma elegante fachada policromada em tons de marrom, ocre e branco.
Esses desenvolvimentos anunciaram, sem dizer, a chegada da Art Déco, mas esse já é um outro passeio.
ALAIN ROUSSEAU tem dois amores: Paris e Brasil. Vive na capital francesa hás 30 anos, mas morou e trabalhou em São Paulo durante oito anos. Nunca mais se desligou do país. Apaixonado por arte e gastronomia, ele é o que os franceses chamam de bon vivant, alguém que gosta de descobrir novidades e que vai trazê-las aqui toda semana.