Alain em Paris: UMA HISTÓRIA DE AMOR, CUMPLICIDADE E MUITA ARTE!

POR ALAIN ROUSSEAU

Matisse et Marguerite: Le regard d’un père (Matisse e Marguerite: a visão de um pai), no Musée d’Art Moderne, em Paris até 24 de agosto de 2025 é, sem dúvida, a exposição mais comovente da temporada.
Ela mostra o relacionamento artístico íntimo entre Henri Matisse, o pintor de cores, e sua filha Marguerite por meio de mais de 110 obras inéditas e documentos raros: pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e cerâmicas.

A exposição segue um itinerário cronológico que traça os principais estágios dessa colaboração entre pai e filha. Marguerite, uma musa constante e inspiradora, esteve no centro de muitas das principais criações de Matisse, desde os primeiros esboços de sua infância até os retratos pintados durante a Segunda Guerra Mundial.

Algumas das obras em exposição são provenientes de prestigiadas coleções americanas, suíças e japonesas. Além disso, as criações da própria Marguerite enriquecem essa imersão em seu universo artístico e familiar.

Marguerite era para o pintor sua filha, sua modelo, sua confidente, sua memória. Uma presença silenciosa, mas onipresente, que revela um relacionamento complexo, comovente e essencial no centro da vida e da arte do pintor.

Para entender melhor esse relacionamento, precisamos ouvir Marguerite, que costumava dizer: “Na época de meu pai, vivíamos com seu drama diário, que era a pintura”.

A CRIANÇA FRÁGIL

Marguerite aparece nos primeiros desenhos de seu pai, uma criança frágil marcada por uma saúde debilitada e uma cicatriz de traqueotomia que ela esconde sob uma fita preta. Ela assombra seus retratos, muitas vezes frontais, testemunha de uma exploração artística cada vez mais ousada. Aqui, seu olhar direto, quase severo, contrasta com a flexibilidade felina do gato enrolado em seu colo na famosa pintura Margueritte au chat noir.

Mais do que um retrato, é um diálogo: o de um pintor que busca capturar não apenas a forma, mas a alma de seu modelo. Marguerite, sem ter escolhido o papel, torna-se um espelho no qual Matisse
questiona suas próprias dúvidas e seu gênio.

BRAÇO DIREITO DO PINTOR

Desde cedo, Marguerite foi uma “criança de estúdio”, imersa no mundo de seu pai, como nesta tela de 1906 pinta em Collioure (um pequeno porto de pesca aos pés dos Pirineus). Ela observou, aprendeu e participou. Mais tarde, ela organizou, corrigiu e supervisionou.

Na década de 1920, ela se tornou o braço direito de Matisse, imprimindo suas gravuras e gerenciando a correspondência com negociantes e colecionadores. Por trás da aparente leveza das tonalidades planas de cor, por trás das linhas dançantes das telas de Nice, ou na série de chapéus, há Margarida, a discreta guardiã de um universo em perpétuo equilíbrio entre o rigor e a exaltação.

COMBATENTE DA RESISTÊNCIA

Depois de ter sido uma musa e apoiadora, Marguerite se tornou uma protagonista da história. Durante a Segunda Guerra Mundial, a jovem se juntou à Resistência. Ela foi presa e torturada, mas manteve sua posição. Os últimos retratos de Matisse sobre ela, em 1945, testemunham sua agitação. Marguerite ainda estava lá, mas tudo havia mudado. Seu rosto, já pintado milhares de vezes, agora trazia as marcas invisíveis de uma guerra interior. Por meio desses desenhos sóbrios e pungentes, temos um vislumbre de um pai esmagado pela preocupação, admiração e amor.