Passados quatro dias do atentado ao ex-presidente Donald Trump, ficam cada vez mais evidentes as grandes falhas no sistema de segurança. O atirador Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, estava no comício de Trump, na Pensilvânia, três horas antes de disparar os tiros. E mais: despertou suspeitas do Serviço Secreto porque carregava um telêmetro (aparelho usado por caçadores/atiradores para tirar fotos e medir longas distâncias).
Segundo a CNN, por volta das 15h do último sábado (13), Crooks foi localizado na área de triagem de segurança do comício quando tentava passar por detectores de metal com o telêmetro. O dispositivo, que lembra um pequeno par de binóculos, o colocou no radar das autoridades. O Serviço Secreto o observou, mas o perdeu de vista quando deixou a área segura.
O atirador também agia de forma estranha perto dos detectores de metal pelos quais os participantes passavam antes de entrar no local do evento. Testemunhas disseram que Crooks estava verificando furiosamente seu telefone, enquanto mexia no telêmetro de caça.
O rapaz disse ao seu chefe que precisava de uma folga no trabalho, no próprio sábado, e mandou aos colegas uma mensagem de que ele estaria de volta no domingo., segundo a imprensa norte-americana.
Acredita-se que ele tenha guardado o rifle que usou para atirar em Trump em seu carro, onde também estavam um colete à prova de balas e dois dispositivos explosivos. Além de ferir a orelha de Trump e outros dois participantes, o chefe dos bombeiros aposentado Corey Comperatore foi morto pelos tiros disparados ao tentar proteger a família.
FALHAS NA SEGURANÇA
O fato é que o Serviço Secreto sabia que Crooks estava na área: cerca de 40 minutos antes do tiroteio, uma fotografia mostrando o atirador no chão, como se estivesse rastejando, foi distribuída às autoridades como um avistamento suspeito, às 17h30.
Trump subiu ao palco às 18h03, uma hora atrasado. Eram 18h11 quando Crooks atirou em Trump a uma distâsncia de cerca de 165 metros.
Testemunhas avistaram Crooks rastejando no telhado do prédio da American Glass Research. Uma equipe de contra-atiradores do Serviço Secreto, de codinome ‘Hawkeye’, também o viu olhando sua posição através do telêmetro.
A polícia tirou uma foto de Crooks uma hora antes do tiroteio, aumentando as evidências de que eles sabiam de sua presença muito antes de ele puxar o gatilho.
Mais duas imagens recém-divulgadas também mostram uma bicicleta de propriedade de Crooks que foi recuperada perto do local, e um detonador remoto, achado ao lado do seu celular e do seu corpo. Mais tarde foi revelado que o detonador estava ligado a explosivos encontrados em seu carro.
INVESTIGAÇÕES
Os investigadores acreditam que ele agiu sozinho e dizem não haver indícios nas redes sociais indicando que o ataque de Crooks tenha motivação política.
O xerife do condado de Butler, Michael Slupe, afirmou à agência AP que um policial local subiu ao telhado e encontrou Crooks, que viu o policial e se virou para ele, pouco antes de ele descer em segurança. Slupe disse que o policial não poderia ter empunhado sua própria arma naquelas circunstâncias.
O oficial desceu as escadas e Crooks rapidamente disparou em direção a Trump. Foi então que atiradores do Serviço Secreto atiraram nele, de acordo com dois funcionários que falaram à AP sob condição de anonimato.
O telhado onde Crooks estava deitado ficava a menos de 150 metros (164 jardas) de onde Trump falava, uma distância a partir da qual um atirador decente poderia razoavelmente atingir um alvo de tamanho humano.
Essa é uma distância na qual os recrutas do Exército dos EUA devem atingir uma silhueta em escala humana para se qualificarem com o rifle M-16.
Além dos explosivos em seu carro, os investigadores também recuperaram um colete à prova de balas e centenas de cartuchos de munição, que haviam sido adquiridos, junto com uma escada, no mesmo dia do tiroteio.
Outro colete à prova de balas e uma terceira bomba controlada remotamente foram descobertos mais tarde na casa que ele dividia com seus pais.
A última revelação de que um transmissor também estava com ele levantou temores de que Crooks pudesse estar planejando continuar sua onda de assassinatos se ele tivesse escapado do telhado com vida e pudesse ter um cúmplice para ajudá-lo.
Horas antes, Crooks havia pedido um dia de folga ao chefe, dizendo-lhe que tinha “algo para fazer”, antes de viajar para o comício de sábado.
O suposto assassino disse aos colegas do Centro Especializado de Enfermagem e Reabilitação de Bethel Park que os veria no domingo.
Mas um agente do Serviço Secreto no comício de Butler garantiu que ele seria a última pessoa que Crooks veria ao olhar para o assassino antes de matá-lo com um tiro, revelou um vídeo gráfico.
O vídeo mostra Crooks olhando atentamente através da mira da arma estilo AR de seu pai e atirando em direção ao comício enquanto os espectadores gritam da base do prédio.
Instantaneamente, uma segunda saraivada de tiros é ouvida e Crooks é retratado morto no telhado enquanto os que estão no chão suspiram de horror.
QUEM ERA O ATIRADOR
Crooks trabalhava como auxiliar de dieta no Centro Especializado de Enfermagem e Reabilitação de Bethel Park, onde fornecia alimentação e cuidados para idosos e doentes pós-hospitalares.
“Estamos chocados e tristes ao saber de seu envolvimento, já que Thomas Matthew Crooks realizou seu trabalho sem preocupação e sua verificação de antecedentes estava limpa”, disse a administradora Marcie Grimm em comunicado. Um colega disse que Crooks nunca expressou opiniões políticas no trabalho e que não era um “radical”.
O suposto assassino era um republicano registrado e formado no ensino médio em 2022. Os registros mostram que ele doou no dia da posse de 2020 para um grupo progressista, que apoia o presidente Joe Biden.
Ele se formou no Community College do condado de Allegheny em maio com um diploma de associado em ciências da engenharia, de acordo com funcionários da escola que disseram estar “chocados e tristes com a terrível reviravolta dos acontecimentos”.
O pai de Crooks, Matthew, foi visto na manhã da última terça-feira (16) pela primeira vez desde o tiroteio, ao abrir a porta da casa da família para agentes do FBI. Os pais dele são terapeutas comportamentais e o pai de Crooks disse que ficou perplexo com as ações de seu filho.
O Departamento de Justiça, o Serviço Secreto e o FBI devem informar os senadores sobre o andamento da investigação ao longo desta semana, enquanto o Serviço Secreto enfrenta fortes críticas sobre a questão da segurança no comício.