O ator e cineasta francês Gérard Depardieu disse que não “é nem um estruprador nem um predador”, quebrando o silêncio sobre as acusações de que seria um abusador sexual em série.
Depardieu, de 74 anos, publicou nesta segunda-feira (2) uma carta aberta no jornal francês Le Figaro, na qual diz que seus inimigos o submeteram a um “linchamento” nos meios de comunicação.
Esta foi a primeira vez que ele se manifestou publicamente desde que pelo menos 13 mulheres se uniram à denúncia de Charlotte Arnould, de 33 anos, que acusou o ator de um comportamento sexual abusivo.
O caso Charlotte Arnould tramita nos tribunais franceses, que rejeitaram a tentativa do advogado de Depardieu de anular as acusações.
O reconhecido ator, que fez muito sucesso em filmes como Green Card, O Último Metrô e na adaptação para o cinema de Cyrano de Bergerac, nega veementemente todas as acusações, inclusive a de que teria estuprado Charlotte Arnould em sua mansão em Paris.
Na carta, ele diz:
Nunca, nunca abusei de uma mulher. Machucar uma mulher seria como chutar a barriga da minha própria mãe.”
Ele disse que decidiu se manifestar porque os protestos feministas interrompem regularmente seu último espetáculo, contendo músicas escritas por Barbara Brodi, a falecida cantora francesa.
“Tudo isso está me afetando. Pior, está me extinguindo”, escreveu.
O ator afirmou ainda que Arnauld, a quem conhece desde pequena, consentiu em ter relações sexuais com ele.
“Entre nós não houve constrangimento, nem violência, nem protestos”, disse na carta. Depardieu justificou a acusação, dizendo que ela ficou “zangada” porque não lhe foi dada a oportunidade de atuar no palco com ele.
O ator admitiu que seu comportamento – muitas vezes, bêbado – pode ter sido doloroso e chocante.
Depardieu renunciou ao seu direito legal de anonimato no final de 2021 para protestar contra a demora na investigação, após ter sido acusado de estupro e agressão sexual.
Poucos dias após a denúncia, o ator voltou ao trabalho, nos sets de filmagem, em Paris.
DOSSIÊ
O site Mediapart publicou um dossiê em abril, no qual diz ter reunido “13 relatos de mulheres que afirmam ter sido submetidas a gestos ou propostas sexualmente inapropriadas do famoso ator, de diferentes níveis de gravidade”. Essas mulheres seriam atrizes, maquiadoras e figurantes.
“Elas dizem ter sido submetidas a uma mão nas nádegas, entre as pernas, na coxa ou na barriga, bem como de terem recebido propostas sexuais obscenas”, diz o site.
Nenhuma dessas queixas se transformaram em acusações criminais formais.
Mas, segundo o Mediapart, muitas das supostas vítimas temiam que eventuais denúncias contra um famoso ator e cineasta poderiam fazer com que elas nunca mais trabalhassem.
As acusações contra Depardieu não são as únicas. O movimento #MeToo também está repleto de queixas contra homens poderosos do meio artístico parisiense, que teriam violado ou abusado de mulheres jovens que trabalhavam como modelos e atrizes.
Manifestações de mulheres mundo afora apelam as atrizes para que não trabalhem com homens alegadamente abusivos.