CARNAVAL 2016: FESTEJANDO NO PRECIPÍCIO

  Os estrangeiros tentam entender o Brasil – é difícil! Nesta quinta-feira (28), a revista britânica The Economist, em sua edição semanal, disse no título que o país está “festejando o Carnaval no precipício”. É forte, não? Mas, a publicação está, por acaso, mentindo ou sendo tendenciosa? 


 Na legenda da foto (acima), a revista escreve que durante os feriados “os negócios param, os brasileiros aproveitam o verão, outros desfilam nas escolas de samba, há poucos carros nas ruas e muito mais corpos nas praias”. Os britânicos estão errados? 

 A Economist diz ainda que a festa “não vai proporcionar nenhuma pausa na crise do país, que sofre com o agravamento da situação política e econômica e ainda tem que lidar com o zika vírus”. Os britânicos estão errados?

  Não se trata de ser pessimista ou conservador. O Brasil tem tudo para crescer, mas está se afundando. Não é mais o país do futebol (ou alguém já conseguiu esquecer o vexame dos 7×1, da última Copa, no próprio quintal)? Também não deveria mais se orgulhar de ser o país do Carnaval.


  Não que eu tenha algo contra a festa, nem seja contra a alegria… e todas essas coisas boas da vida, entre elas, cantar e dançar. Adoro Carnaval. Porém, vivemos um momento complicado. Não dá para fingir que nada acontece… 


  Então, questiono: algum brasileiro, em sã consciência, tem motivos para curtir o feriadão de Carnaval – seja na praia ou na passarela do samba – como se tudo estivesse na mais perfeita ordem?  


 Não seria este o momento de enfrentar a crise, com atitudes concretas, e não apenas por meio de piadas, desabafos e ofensas nas redes sociais, onde as pessoas vivem um verdadeiro duelo virtual? 

  Por que investir milhões em escolas de samba, trios elétricos, fantasias ou camarotes glamourosos à beira-mar, se há gente morrendo na porta dos hospitais por falta de recursos e o desemprego bate números históricos?

 Diz a revista britânica que no ano passado 1,5 milhão de trabalhadores foram demitidos pelas empresas. Em 2016, a previsão é de que 1 milhão de pessoas também percam os seus empregos.  


A saúde e a educação estão caóticas, a bandidagem, desenfreada, nos mais diversos escalões. Perdeu-se o comando e a noção geral da nação. Não se consegue combater nem o mosquito da dengue. Agora o vírus Zika estão deixando o resto do mundo de cabelo em pé. Isso sem falar nas demais perdas, que não são poucas.

 Não está fácil para ninguém. Tanto que 48 prefeituras de 8 estados (a maioria no Sul de Minas e no interior de São Paulo) cancelaram as festas para investir o dinheiro (escasso) em áreas prioritárias – exemplo que deveria ser seguido pelos demais. Mas aí seria pedir muito, não? 


  Então, qual o espírito da festa se, desde o ano passado estamos “pulando feito pipoca” em um clima de quarta-feira de cinzas, que parece infinito? Se assistimos, e até participamos todos os dias, mesmo que indiretamente, de um baile de máscaras pelo avesso? Ou seja, cai uma por segundo, na velocidade da lava-jato.   


  Mas, relaxe! Afinal, já é quase Carnaval…

 

 Só que o nosso samba enredo mudou, galera. É hora de encarar a realidade – sem fantasias, purpurina e com um pouco mais consciência!