Cresci ouvindo minha avó paterna dizendo: “Sou como o cedro do Líbano; me curvo, mas não quebro”. Esse mantra me acompanhou durante toda a vida e agora volta à memória, ainda com mais força, quando vejo os protestos que tomam conta das ruas de Beirute neste início de agosto.
As imagens são tão impressionantes quanto às da dramática explosão no porto da capital, que matou 168 pessoas, deixou outras 6 mil feridas e cerca de 300 desabrigados.
Mas, os efeitos da tragédia agora parecem menores diante da gigantesca ira dos libaneses com os seus políticos.
Eles estão há três dias nas ruas para exigir mudanças radicais no país devastado pela corrupção, pela miséria, pelo coronavírus e hoje pelos efeitos da explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônia, que estavam armazenadas há seis anos em um depósito do porto sem qualquer medida de segurança.
Além de bandeiras, foram à Praça dos Mártires, no centro de Beirute, “armados” com pás e vassouras visto que o governo ainda não começou a limpeza dos escombros.
Eles também improvisaram forcas nas ruas, que simbolizam a morte dos líderes políticos.
Reprodução/Twitter |
As forças de segurança tentaram conter a multidão. Mas, uma população acostumada a tantas guerras não se intimida com bombas de gás lacrimogêneo.
Há uma revolução instaurada no país. “Preparem as forcas porque nossa raiva não será extinta da noite para o dia”, postaram os libaneses nas mídias sociais neste domingo (9).
Como neta de libaneses, aprendi desde a infância que resiliência é uma das grandes características do povo deste pequeno país encravado entre as montanhas, miscigenado e que sempre esteve em meio a disputa dos antigos impérios.
Também aprendi que quando se enfurecem não há nada nem ninguém que possa contê-los.
Tal como a fênix, o Líbano renasceu das cinzas ao longo dos séculos. Será que a história vai se repetir?