Uma enquete do portal Jovem Pan, divulgada nesta quarta-feira (24), mostra que 97,1% dos ouvintes não concordam com as novas restrições anunciadas pelo governador João Dória para combater a pandemia. Apenas 3% disseram que ele está certo, revelou o programa Os Pingos nos Is.
A partir desta sexta-feira (26), será implantado toque de recolher no Estado, entre 23h e 5h, para “evitar a disseminação do vírus”. Só poderão funcionar no período os serviços essenciais.
Ele justificou a medida alegando que o Estado registrou o maior número de pacientes com covid internados em UTI desde o início da pandemia. E também disse temer que os leitos se esgotem em 22 dias.
Mais uma vez, ele interfere no direito de ir e vir de milhares de pessoas e, principalmente na já combalida economia do Estado, sem ouvir a opinião da sociedade civil, nem oferecer análises ou estudos que justifiquem tais medidas restritivas.
E os cidadãos já perceberam que essas medidas são ineficazes, como mostraram a enquete e a discutível política estadual de saúde ao longo de um ano. Foram inúmeras ações desastrosas. Sem falar, no desvio milionário de recursos durante a pandemia!
Além do mais, há questões que não são respondidas, como se as pessoas não tivessem capacidade de raciocínio.
O vírus tem hábitos noturnos? Qual o índice de infecções somente à noite? Se você está circulando sozinho em seu carro, de madrugada, poderá contaminar e ser contaminado? E, durante o dia, no transporte coletivo lotado por necessidade, o coronavírus é mais compassivo?
Quais as cidades com maior número de casos que exigem tais medidas? E as que não têm casos, ou são excessivamente tranquilas, por que estão entrando no pacote? Qual a lógica desse controle?
O mais paradoxal, entretanto, é que as restrições da fase amarela, na qual está inserida a capital paulista e várias outras cidades do Estado, já impedem o funcionamento de serviços não essenciais após às 22h justamente para evitar aglomerações.
Para Doria, “os comportamentos da população à noite são mais arriscados para a propagação do vírus”. Ele disse que a medida foi recomendada por médicos do governo. Mas, com base em quê? Não informa. É tudo generalizado.
Ele está se referindo a festas, principalmente as conhecidas como pancadões nas comunidades, que continuam acontecendo desde o início da pandemia.
Ninguém conseguiu impedi-los até agora, assim como foi difícil interromper aos festões clandestinos de todas as classes, especialmente no Réveillon e no feriado de Carnaval.
E os que preservam sua saúde e a dos demais, ficando em casa, acabam sofrendo as consequências por atos irresponsáveis alheios.
Assim, o cidadão comum estará sujeito a blitz porque o governo informou ter criado uma força-tarefa para vigiar quem está fora de casa após às 23h. Essa equipe será formada pela Vigilância Sanitária, Polícia Militar e Procon.
Segundo o governo, serão multados estabelecimentos e casas que promoverem festas e pessoas que forem reincidentes na circulação na rua sem justificativa. Os paulistas só poderão sair por motivos de saúde e trabalho.
E se você tiver uma emergência à noite, como uma viagem de última hora, por motivos pessoais? Deve pedir autorização à polícia?
Mas, para o governador não se trata de bloqueio: “É um toque de restrição, não lockdown”.
Boa parte da população sabe que “toque de restrição” é apenas um jogo de palavras na tentativa de tornar as medidas, sem critérios específicos, mais leves. É assim que agem os marketeiros!