A pandemia de coronavírus trouxe transtornos e virou o mundo do avesso. Entre as muitas estatísticas, uma é especialmente preocupante: compulsões e vícios aumentaram em 48% o atendimento psiquiátrico na quarentena.
Os dados são da Associação Brasileira de Psiquiatria. O crescimento de vícios e compulsões são resultado de excesso de tempo em casa e do turbilhão de emoções que inundam os pensamentos de quem está isolado.
A maioria dos transtornos tem ligação com alimentação, jogos, bebidas alcoólicas, drogas e compras online, diz o psiquiatra Diego Tavares, do Hospital das Clínicas FMUSP.
Para o médico, algumas dessas ações são feitas por ansiedade para aliviar um estado de humor descompensado, que inclui medo, insegurança, preocupação e mal-estar associado a eventos negativos que podem ocorrer.
Esses sentimentos podem provocar ainda inseguranças em atividades da vida diária, crises de pânico, fobia social e agorofobia (medo de ficar em casa ou de sair desacompanhado).
Mas, como descobrir se você está sofrendo algum distúrbio comportamental?
Para a maioria das pessoas, o principal gatilho é comer compulsivamente, diz o médico.
Esse comportamento impulsivo alimentar tem vários riscos: além de interferir na silhueta, provocando baixa estima e depressão, afeta a saúde em geral. Ou seja: pode gerar problemas cardíacos, como a hipertensão e a diabetes, colocando a vida em risco.
“Essa pessoa pode ainda estar sofrendo de descontrole da impulsividade em outras áreas que só agora, com tempo em casa, tiram essa sujeira debaixo do tapete”, explica o médico.
Tavares diz ainda que esse quadro pode fazer parte de um único problema, que desregula o humor e os impulsos, o chamado transtorno bipolar.
O descontrole ocorre em áreas do cérebro responsáveis por cada um dos nossos atos e, como potencializam o impulso por comida, enfraquecem os centros da saciedade, fazendo com que a pessoa coma muito, acrescenta o médico.
OUTRAS SITUAÇÕES
Uma pessoa que come de maneira exagerada, mesmo sem fome, pode apresentar outras características cerebrais de aumento de impulsividade em outras situações.
Como por exemplo:
- Fumar em excesso ou usar outras substâncias químicas de maneira abusiva (álcool, cafeína, energéticos etc)
- Gastar dinheiro de maneira descontrolada em compras
- Maior tendência a jogar compulsivamente, mexer no celular ou ficar na internet muito tempo
- Trabalhar compulsivamente
- Apresentar comportamento sexual excessivo
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Outro dado importante é que passar muito tempo em casa tem feito com que pacientes manifestem sintomas de impulsividade sexual. Esse comportamento pode ser ainda gatilhos para violência sexual e doméstica, que tanto aumentou na epidemia no Brasil.
Segundo o médico, “são pacientes com histórico longo de depressões e que entre as crises têm aumento de libido, buscam sexo arriscado e perigoso, se masturbam excessivamente e durante os picos ficam compulsivos por sexo, num verdadeiro vício e busca pelo prazer”.