Não está nada fácil a vida de quem mora em São Paulo: a inadimplência cresce e o número de famílias com contas atrasadas atingiu em maio o percentual de 21,7%. Em fevereiro, essa taxa era de 19%. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Segundo a FecomercioSP, esses números revelam uma situação preocupante de deterioração das condições financeiras das famílias.
Sem um aumento real expressivo na renda média, a inflação persistente — que deve crescer, pelo menos, 5% em 2025 — e a dependência do crédito, cujos juros anuais ultrapassam 48%, “vão manter esse contexto de inadimplência elevada nos próximos meses. Desde fevereiro, 112,5 mil famílias entraram para o grupo de inadimplentes”, revela a entidade.
E ainda que o tempo médio dos atrasos tenha caído timidamente — de 63,8 para 62,7 dias, entre abril e maio —, contas vencidas e não pagas em um intervalo de 30 dias aumentaram para 24,4% na composição da inadimplência nesse mesmo intervalo.
O endividamento também aumentou: em maio, já eram 71,2% das famílias (contra 67,7%, em fevereiro). Em números absolutos, são 2,91 milhões de lares nessa situação.
Uma análise com base no corte de renda reforça o argumento de que a inflação está prejudicando muito o orçamento familiar na cidade. Dentre as casas com renda abaixo de dez salários mínimos (classes média e baixa), 75,6% convivem com dívidas. Entre as classes mais altas, essa taxa é de 58,4%.
CARTÃO DE CRÉDITO, O VILÃO
O maior responsável pelo endividamento das famílias paulistanas é o cartão de crédito, com 77,8% dos casos. Ainda assim, é o menor patamar da presença dessa modalidade na composição das dívidas desde março de 2021. Isso se explica, em parte, pelas retrações nas ofertas e pela percepção de que, ao usá-lo, há mais chance de entrar na situação de inadimplência.
Chama a atenção que 15% dos endividamentos estejam lidando com dívidas de um financiamento imobiliário. Trata-se de um risco para o orçamento doméstico, dado o longo prazo dessa conta e a pressão causada pela inflação sobre o orçamento. No limite, as famílias podem acabar deixando de pagar as mensalidades ou até fazendo outras dívidas justamente para pagá-las.
CRÉDITO PARA PAGAR DÍVIDAS
A pesquisa mostra ainda que mais pessoas têm recorrido ao crédito para quitar dívidas. O número de pessoas pensando em pedir algum tipo de empréstimo com esse objetivo subiu de 8,8% para 9,6%. No geral, 14,1% dos entrevistados cogitam recorrer a essa modalidade.
Segundo a FecomercioSP, é um indicativo de que as dívidas de curto e médio prazos (de três meses a um ano) têm crescido na capital paulista, o que se encaixa no perfil de muitas famílias com necessidade de pagar contas e manter o consumo essencial diante do menor poder de compra.