LUXO É TER SUA CIDADE ADMINISTRADA POR GENTE CAPAZ E COM VISÃO URBANISTA

  

Este blog não é político. Ele fala sobre lifestyle, viagens, gastronomia, tecnologia
e mercado de luxo. Mas, a meu ver, o conceito de luxo contemporâneo mudou muito.
Luxo é ter qualidade de vida, tempo para si mesmo, amigos verdadeiros (nem que
sejam poucos), fazer o que gosta e, principalmente, se sentir bem onde vive.

  
 Por
isso, resolvi escrever aqui sobre São Paulo, onde nasci, lugar em que sempre morei e
adoro. É uma metrópole com problemas, claro, como todas as grandes cidades. Ao
mesmo tempo, nos oferece tudo que uma capital cosmopolita tem de melhor. Porém,
ganhou complicações extras, totalmente desnecessárias, cuja base é de origem
duvidosa e desastrada.
  
 Nós, paulistanos, que pagamos altos impostos,
estamos perdendo qualidade de vida, de humor (todos andam profundamente
irritados) e até mesmo o direito de ir e vir, sem sobressaltos. Estamos também
perdendo nossas cartas de motoristas pelo volume de multas arbitrárias. Tenho
vários amigos que chegaram a receber até três no mesmo dia em função do limite
de velocidade, que vai mudando de um trecho para o outro. E nem sempre a
sinalização é visível, além das mudanças constantes que são feitas.
  
 Estamos reféns de um prefeito, que quer entrar para a história como um grande
urbanista, mas suas intervenções, sem qualquer planejamento, critério e logística,
dificultam cada vez mais nossa rotina. São Paulo virou um mega “big brother”,
com câmeras de radares 24 horas.
  
 Tirar o carro da garagem ficou tenso. Não
tanto em função do trânsito, que sempre fez parte de nossa rotina. Mas, sim,
porque hoje guiamos com um olho no radar e outro no caminho ou nas
inúmeras placas (muitas com a mesma informação), que “brotam” nas ruas feito
grama.
  
 E não adianta reclamar, postar nas mídias
sociais, porque quanto mais a população protesta, mais ele “cria” novidades,
sem aviso prévio. Acho que sente prazer em desafiar a nossa paciência.
  
 Ficou muito perigoso trafegar à noite a 50
km/h pelas marginais ou grandes avenidas, que num passado não muito distante
eram chamadas de vias expressas. O jeito é buscar rotas alternativas. Mas, há
caminhos que precisamos fazer e aí não se tem escolha: ou somos assaltados por
bandidos ou pelo próprio poder público. Não temos para onde correr,
literalmente.
  

 Quero
deixar bem claro que adoro bicicletas, gosto das áreas de lazer para pedestres e não sou contra as ciclofaixas, mas sim a maneira como são feitas. Há ruas residenciais em ladeiras íngremes, “premiadas”
com ciclovias, impossíveis de serem usadas até por atletas profissionais.

  
 As ruas também perderam vagas de
estacionamento, mas ganharam reforço da zona azul. E a CET bate ponto diariamente
nesses locais, porque sabe que são boa fonte de arrecadação.
 Também
não sou contra a faixas exclusivas para ônibus, especialmente nos grandes
corredores, que melhoraram a vida daqueles que usam transporte público, mas sim
pela implantação sem critérios em ruas, que precisaram ser fatiadas em três
(ônibus + ciclovia + uma pista para carros).
  Acredito que cada morador tenha um
exemplo desses em seu bairro. A cidade fica travada de manhã à noite, inclusive
aos fins de semana, em locais que antes tinham um bom fluxo.
AS MAIS CARAS DO MUNDO

  Mas, além de todos esses fatores, o mais grave
é que as ciclovias do Haddad são as mais caras do mundo. Segundo a revista Istoé, o custo médio de cada quilômetro
construído sai por R$ 650 mil – cinco vezes o valor pago por Paris, e muito
acima das de Nova York e Buenos Aires. O Ministério Público está investigando.
  
  Uma ciclofaixa
especialmente chamou mais a atenção dos promotores paulistas: a da
Ceagesp-Ibirapuera, onde cada um dos seus 12,4 quilômetros custou R$ 4,4
milhões, financiados por nós. Na ação, os promotores pedem que o prefeito seja
retirado do cargo, tenha os seus direitos políticos suspensos e devolva o
dinheiro.
  
 E o nosso dinheiro, arrecadado em impostos municipais, com juros diários, e
surrupiado em milhares de multas, quem vai devolver? A quem podemos pedir socorro?
   
 E não venha me dizer, deixa o carro em casa ou
ande a pé, porque eu tenho o direito de escolha. Só andaria de metrô, se pudesse.
Mas, infelizmente a malha ainda é pequena, e aqui não é Paris, nem Nova York ou
Tóquio.
 Tem
mais: São Paulo não é propriedade de ninguém e os projetos devem beneficiar a
todos os cidadãos, sejam ciclistas, pedestres, motoristas, empresários ou
operários. E também não podem nos confiscar o prazer de dirigir.
 Assim,
meu conceito de luxo ganhou mais requisitos: luxo hoje é ter a sua cidade
administrada por gente competente para o cargo, menos corrupta e com visão urbana,
de fato –e não apenas de fachada, ou de faixas!