Maio é um mês cheio de datas comemorativas: mês das noivas, das mães etc. Maio é também o mês laranja que simboliza o combate aos abusos e à violência sexual infantil. O próximo dia 18 marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, um dos problemas mais crueis da atual civilização humana e que se agravou ainda mais com a chegada da tecnologia.
No Brasil, a data foi inspirada no brutal assassinato da menina Araceli Cabreira Sanchez Crespo, de 8 anos, abusada e morta quando voltava da escola, em 1973, na cidade de Vitória (ES). A garota ficou em cárcere privado, no sotão de um bar, onde foi drogada, estuprada e morta.
Houve à época comoção nacional e, passados 51 anos, o caso Araceli continua na memória coletiva do país. Três empresários de famílias influentes locais foram acusados, mas nada aconteceu com os assassinos e o inquérito acabou arquivado em 1993. Esse tipo de crime hoje é praticamente uma rotina global e o Brasil tem números alarmantes:
PERIGOS ONLINE
Em 2021, foram registrados 44.879 estupros de vulneráveis. Apenas 10% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes são notificados.
Se os abusos sexuais infantis sempre foram uma realidade no planeta, a tecnologia escancarou as portas para esse tipo de crime. Com seus celulares, tablets, plataformas de jogos online e mídias sociais, crianças e adolescentes nunca estiveram tão vulneráveis e expostos, especialmente à pedofilia, um mercado que movimenta globalmente cerca de US$ 150 bilhões.
As denúncias de imagens envolvendo abusos sexuais infantis bateram recorde em 2023, com 71.867 relatos de imagens na web (crescimento de mais de 77% em relação a 2022), segundo dados da Safernet, ong brasileira que monitora violação de direitos humanos na internet há quase 20 anos, com foco nas crianças, e se tornou uma referência do setor. No restante do mundo, a situação é praticamente a mesma. Desde 2019 esse tipo de denúncias aumentou 87%.
Outro dado assustador: o Helpline, canal de denúncias da Safernet, registrou em 2024 um aumento de 125% em pedidos de ajuda relacionados a aliciamento sexual infantil online. Isso significa que os pais e responsáveis precisam redobrar a vigilância e adotar novos tipos de comportamento em relação à segurança de seus filhos. Não há mais espaço para a negligência.
RESPONSABILIDADE DOS PAIS!
A terapeuta Marta Campos, que atua na área de educação sexual, emocional e prevenção ao abuso sexual infantil, diz ser fundamental a postura dos pais e ou responsáveis. Afinal, cabe a eles garantir aos pequenos um ambiente seguro. A primeira atitude a tomar é: explicar claramente às crianças que existem riscos enormes na internet. Devem ainda manterem-se atentos e vigilantes constantemente. A terapeuta traça o caminho que os pais podem seguir.
Observem os jogos online do seu filho: aparentemente inocentes, são bastante utilizados por abusadores que se passam por crianças para se aproximar de suas vítimas. Adquirida a confiança dos pequenos, eles passam a incentivá-los a tirar fotos nus. A partir daí, passam a chantageá-los. Se sabem que tem irmãos, induzem a criança a praticar atos libidinosos com eles para que sejam fotografados. Com medo, as crianças fazem exatamente o que eles querem.
Além da chantagem emocional, eles vendem as imagens na chamada deep web para abastecer a nefasta e bilionária indústria da pedofilia infantil. Podem também acessar o endereço físico e seguir os pais em suas mídias sociais para conhecer os hábitos da família. Percebem o perigo?
Marta Campos afirma que não adianta só instalar aplicativos de proteção nos celulares dos filhos. É preciso uma interação constante, como jogar junto com eles, observar os chats e saberem com quem estão falando, porque os abusadores ensinam as crianças a apagarem histórico de pesquisa.
Não deixe a criança dormir com o celular: os abusadores atuam muito durante as madrugadas porque sabem que os pais estão dormindo. Além disso, há o fator viciante: as crianças acordam, pegam o celular, depois não voltam a dormir e passam a não se interessar por outras atividades durante o dia. Portanto, esse controle é fundamental para os pequenos. Deixar uma criança com um celular é o mesmo que largá-la sozinha em uma praça central de uma metrópole como São Paulo.
E não pense duas vezes em denunciar, seja diretamente nas plataformas (Facebook, Instagram e WhatsApp), na Central Nacional de Denúncias da SaferNet, ou pelo disque 100.
Cabe ainda evitar ao máximo de expor seus filhos, especialmente os pequenos, em redes sociais, mesmo que sejam talentosos, lindos, empatas e que façam sucesso nos vídeos curtos de aplicativos, como Instagram e Tik Tok. Não vale a pena trocar a vida deles por likes. Os predadores ficam 24 horas online!