Imagine você comprando uma revista na banca ou recebendo o jornal que assina online com manchetes cheias de palavrões, frases vulgares ou ofensas pessoais carregadas de ódio?
Ou então, algum apresentador de TV, jornalista ou comentarista usando o microfone da emissora para fazer ofensas sobre a sua vida particular, revelar diagnósticos de doenças, colocar vídeos com desavenças familiares, traições etc, tornando público o que não interessa a ninguém?
Como se sentiria diante dessa situação? Agredido e profundamente irritado pela sua privacidade invadida, exposto a comentários da parte de pessoas que nem te conhecem, muito menos sabem o que acontece em sua vida, mas estão dando opinião.
No caso do jornal impresso ou online, com certeza você iria mandar uma carta para o diretor de redação, exigiria um direito de resposta e até mesmo a retratação por parte da publicação. O mesmo faria em relação ao funcionário da emissora de TV que o ofendeu publicamente, jogando no ar as suas mazelas. E ainda poderia entrar na Justiça com um processo por injúria ou difamação.
Era assim que a comunicação funcionava e havia regras de conduta até… surgirem as mídias sociais. Elas deram voz ao mundo e poder ilimitado de expressão. Surgiram com um conceito positivo: o de aproximar as pessoas, romper barreiras de distância, língua, raça…
O problema é que não foram ainda criadas normas para regulamentar a tribuna livre. Aqui no Brasil, onde também vivemos o maior déficit ético da nossa história, o massacre virtual está rolando solto. E salve-se quem puder!
O fato de alguém ter um perfil no Facebook ou uma conta no Twitter não lhe dá o direito de sair escrevendo o que quer. Não é censura, mas uma questão de bom senso, de educação, de princípios e de respeito, porque outras pessoas estarão lendo, comentando e compartilhando. O feed de notícias do Facebook, por exemplo, é hoje o jornal do mundo, com uma audiência esmagadora, diária e ininterrupta.
Ao contrário da TV que era desligada quando o programa terminava ou do jornal velho que forrava a gaiola do passarinho, as notícias hoje ficam circulando o tempo todo e são exaustivamente compartilhadas. E os programas de rádio e TV também estão dentro do Facebook e dos canais do Youtube podendo ser acessados sem prazo de validade.
A pessoa acessa um comando no seu smartphone e entra ao vivo, falando o que bem entende e mesmo quando não entende absolutamente nada sobre o que fala. O número de “especialistas” online ganha proporções gigantescas.
Sem contar com as notícias falsas que são viralizadas porque ninguém tem paciência para observar, fazer uma checagem simples se o que estão passando adiante é verdadeiro ou falso. Os posts são compartilhados no impulso, pelo título. Há os palavrões – agora escritos com destaque em quadrinhos de fundo colorido, ou xingamentos que são postados o tempo todo. Você se sente bem lendo isso? Lembre-se que é o seu próprio editor.
Por que resolvi falar sobre o assunto? Sou a favor da censura? Sou contra a liberdade de expressão, a modernidade, a internet, a conectividade? Claro que não! Adoro a internet, não consigo ficar muito tempo longe dela e é também uma de minhas ferramentas de trabalho.
Mas, ando incomodada pela forma com que muita gente está sendo desconstruída nas mídias sociais, sem direito de defesa ou qualquer pedido de desculpas. É um linchamento diário, que destrói carreiras, reputação. E fica tudo registrado nos sites de busca, não? Essas palavras escritas com tanto ódio e intolerância entram para o histórico das pessoas. É cruel!
Pense nisso antes de sair dando sua opinião seja sobre política, economia, comportamento, ideologia, celebridades… Você tem o direito, sim, de se expressar desde que não massacre ninguém, porque amanhã pode ser igualmente massacrado.
Mídia social não é divã, ringue, tribunal de inquisição ou válvula de escape para eventuais frustrações. Mídia social é coisa séria, ela amplifica a nossa voz e hoje tem mais poder do que a própria imprensa tradicional.
Que tal usar essa poderosa ferramenta para construir, melhorar o que está ruim, se aproximar das pessoas, compartilhar coisas boas e ajudar a promover mudanças – especialmente no Brasil atual?
Afinal, todos nós temos telhado de vidro, nesses tempos virtuais ele não é mais blindado contra apedrejamentos e você pode ser a próxima vítima!