Quem trabalha com comunicação, sabe: a fase está difícil, uma verdadeira bagunça. As chamas da fogueira das vaidades, que sempre existiram, agora são compartilhadas em tempo real. As notícias falsas crescem feito ervas daninhas. O que é verdade? O que é mentira? Essa imagem é real? Hoje, jornalistas e formadores de opinião gastam muito mais tempo checando o que é fake do que produzindo news.
As mídias sociais deram poder e voz a milhares de “especialistas”, que entendem de tudo e tudo comentam, sem a mínima noção de como as palavras têm poder. Sim, poder de construir, de destruir, de desinformar, de causar intrigas, de provocar rompimentos. As palavras impressas são eternas. E hoje existem os sites de busca que perpetuam a sua vida pessoal e profissional online.
É a era do ódio, da divisão, do plágio, da inveja e do selfie (eu). Estamos todos expostos a um tribunal virtual que trabalha 24 horas, incansavelmente. Tudo é motivo de polêmica, de debates, de xingamentos, de palavras duras… Que chato é este mundo opinativo e tão compartilhado!
O curioso é que as redes sociais surgiram com o propósito de unir as pessoas, facilitando a comunicação entre elas. Agora, o efeito é o inverso. Além de exterminarem com a conversação olho no olho – membros de uma família se comunicam por whatsapp em suas próprias casas – elas provocam brigas, solidão, disputas, cobiça, rompimentos e um volume gigantesco de informações totalmente desnecessárias.
Já perceberam que passamos o dia inteiro lendo bobagens pelo celular? E quanto mais bizarra a pseudo notícia, mais ela viraliza, atingindo milhares de visualizações? Mas, não conseguimos deixar de ler. E o que é pior: as besteiras se multiplicam à velocidade da luz nos grupos da web. Estamos ficando cada vez mais desinformados, desequilibrados e iludidos.
A vida tipo conto de fadas do Instagram trouxe a ideia de que você pode ser famoso sem muito esforço. Basta ter milhares de seguidores, que receberá convites para shows, restaurantes, eventos ou testará produtos. E quem não tem, compra-os para mostrar ao mercado que é um influencer (a palavra da moda). É um universo fútil, um mundo de fantasias muito perigoso. Não se trata da informação real. A pessoa está ganhando para divulgar aquele produto.
Essa superficialidade faz com que muita gente se esqueça de que é preciso ter conteúdo para ser um formador de opinião, ou um influenciador. É preciso ter cultura, bagagem pessoal, ou seja, estudos e experiência para ser reconhecido. Ninguém fica famoso por mostrar seu rostinho, ou corpo malhado, na internet. E, caso fique, essa fama sem nenhuma base passa tão rápido quanto a velocidade de um post na sua timeline.
Na vida real (muito diferente da virtual), as pessoas querem ter exemplos interessantes, aprender com quem sabe mais do que elas; querem saber quais foram os trabalhos mais relevantes daquele que faz sucesso no instagram. O que ele fez para conquistar fama, prestígio, reconhecimento? Qual o seu legado? Não dá para escrever os capítulos de sua história com base na história do outro.
Nem sempre os seus méritos terão muitos likes ou suas conquistas serão compartilhadas. O dia a dia não tem aquele pôr do sol fantástico do instagram nem o mar azul turquesa das Ilhas Maldivas. O seu relacionamento também pode não traduzir as declarações de amor virtuais que você posta constantemente… afinal, casais realmente felizes não se expõem. Então, por que mentir, manipulando fotos, vídeos e seguidores?
Aquele que tenta copiar a vida do outro, sem ter feito o mínimo esforço para conseguir tudo o que ele conquistou, pode criar um perfil nas redes sociais, comprar ou ganhar milhares de seguidores, que nada vai acontecer. Não há sustentação. O que é falso, insignificante, não se estabelece. No mundo dos negócios, no cotidiano não virtual, a palavra credibilidade ainda é uma senha poderosa. E precisamos, sim, de algum talento para nos sobressair…
Esses são os tempos em que vivemos. A tecnologia modificou tudo, principalmente as nossas vidas e valores. Então, muitas vezes a gente se pergunta: como transitar nessa fogueira de vaidades sem se chamuscar? Como ser verdadeiro em um universo tão fútil e, muitas vezes, bizarro?
Cada um encontra a sua fórmula. O importante é lidar com a sua própria verdade. Seja o que você é em essência e não o que gostaria de ser. Não cobice o trabalho ou a posição do outro, não seja camuflado na vida real e muito menos na virtual. Jogue limpo com as pessoas do seu círculo de convivência. Seja ético. O fake tem vida curta! As pessoas percebem. Podem não comentar nada, mas sabem com quem estão lidando. E, em vez de admiração, você perde o respeito.
Se você, realmente, tem algo importante para compartilhar, siga adiante. Se faz um trabalho interessante, divulgue-o o máximo que puder. Caso contrário, não caia na ilusão de acreditar que os seus perfis nas redes sociais, que as suas fotos na praia, no restaurante ou nos eventos sociais vão alavancar a sua vida pessoal ou a sua carreira.
Ao contrário, elas apenas mostrarão o quanto você está precisando cuidar de sua autoestima. É melhor procurar um terapeuta antes do próximo post!