A doença de Alzheimer pode ser tratada com um medicamento que já existe há décadas: trata-se de um tipo de droga usado em grávidas para induzir o parto.
Pelo menos foi o que revelou um novo estudo feito pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Pesquisadores descobriram que esse tipo de medicamento também acelera o sistema que limpa os resíduos do cérebro.
Aliás, esse seria o motivo que alguns chamam o Alzheimer e outras demências de doenças do “cérebro sujo”, porque quando o sistema de eliminação desacelera, os resíduos tóxicos se acumulam no cérebro, danificando assim o tecido saudável.
Segundo Douglas Kelley, professor de engenharia mecânica na Universidade de Rochester e que liderou o estudo, o uso de medicamentos que causam contrações musculares pode restaurar parte dessa função.
Esses medicamentos usados para ajudar mulheres a dar a luz em mais de 1 milhão de gestações por ano nos Estados Unidos podem ser tomados como pílula ou aplicados como tópico.
“Esta pesquisa mostra que restaurar a função dos vasos linfáticos cervicais pode resgatar substancialmente a remoção mais lenta de resíduos do cérebro associada à idade’. Além disso, foi realizado com um medicamento já usado clinicamente e que oferece uma estratégia de tratamento potencial”, afirmou o pesquisador Kelley.
Os pesquisadores examinaram o sistema de remoção de resíduos do cérebro, conhecido como sistema glinfático, que começa a desacelerar em idades mais avançadas e aparece em doenças como Alzheimer e Parkinson. O estudo foi publicado no periódico Nature Aging.
Esse sistema glinfático foi analisado pela série complexa de túneis e bomgas usados pelo cérebro para remover resíduos. O sistema bombeia fluido sobre o tecido cerebral, lavando e bombeando para fora células e proteínas velhas que poderiam ficar acumuladas, danificando neurônios.
Em um cérebro jovem e saudável, esse sistema é bem lubrificado e eficiente. Mas, ele desacelera à medida que as pessoas envelhecem, o que pode resultar em demência.
No caso do Alzheimer, uma das teorias é que desaceleração permite o acúmulo de proteínas chamadas beta amiloide. Em cérebros mais jovens, essa proteína, quando não mais utilizada, é enviada ao corpo para ser processada.
Feixes dessas proteínas disfuncionais podem se acumular, expulsando e matando o tecido cerebral saudável. Na doença de Parkson, acontece um processo semelhante que envolve uma proteína chamada alfa-sinucleína.
COMO FOI FEITA A PESQUISA
Os cientistas observaram em camundongos como os sistemas de resíduos cerebrais desaceleram com a idade. Em camundongos mais jovens e saudáveis, essas bombas de drenagem estavam funcionando rapidamente, liberando um fluxo quase constante de fluido sujo para fora do cérebro, Porém, nos mais velhos, as contrações foram reduzidasz em cerca de 63%, deixando mais sujeira se acumular no cérebro.
Dessa forma, os pesquisadores consideraram o medicamento, chamado prostanoides, que tem sido utilizado há anos. Eles afetam as prostraglandinas, um tipo de gordura que o corpo produz naturalmente e que causa, entre outras coisas, contrações. Esses medicamentos são utilizados em diversos quadros clínicos -desde a indução a contrações musculares no trabalho de parto até o tratamento de glaucoma e do aumento do fluxo sanguíneo.