O QUE É A CRANIOTOMIA, CIRURGIA FEITA POR LULA?

Neurocirurgião do Hospital das Clínicas de São Paulo explica o passo a passo da cirurgia de crânio, sua recuperação e eventuais sequelas!

O presidente Lula foi submetido na manhã desta terça-feira (10), a uma cirurgia de emergência no cérebro, chamada de craniotomia, após ter sido costatada hemorragia provocada por um hematoma. Ele procurou ajuda médica em Brasília após sentir fortes dores de cabeça. Segundo boletim médico, ele está agora em recuperação na UTI do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Mas, o que é a caraniotomia? O médico Fernando Gomes, neurocirurgião do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica o passo a passo dessa intervenção cirúrgica. Gomes, autor de nove livros de neurocirurgia e comportamento humano, é professor livre docente de neurocirurgia, atua em hospitais renomados e coordena um ambulatório relacionado a doenças do envelhecimento no Hospital das Clínicas.

Professor Livre Docente de Neurocirurgia, com residência médica em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é neurocirurgião em hospitais renomados e também coordena um ambulatório relacionado a doenças do envelhecimento no Hospital das Clínicas.

COMO É FEITA A CIRURGIA?

O procedimento envolve a remoção de uma parte do osso craniano (cabeça) para permitir o acesso ao cérebro. Ele é utilizado para tratar várias condições neurológicas, como tumores cerebrais, hemorragias ibntracerebrais, lesões traumáticas, infecções e malformações vasculares.

Com o paciente sob anestesia geral, o cirurgião faz uma incisão na pele do couro cabeludo, expõe o crânio e remove uma seção do osso craniano, criando um “flap” que pode ser levantado.

Com o osso removido, ele pode acessar o cérebro do paciente e tratar a condição específica, como a remoção de um tumor, a coagulação de um vaso sanguíneo ou a evacuação de um hematoma. Esta última (remoção de um hematoma) foi a causa da cirurgia do presidente, segundo seus médicos.

Após a intervenção, o “flap” de osso é reposicionado e fixado, e a incisão na pele é suturada.

POR QUE É RECOMENDADA?

A craniotomia é considerada uma cirurgia de grande porte devido à complexidade do procedimento e aos riscos associados. Ela é recomendada em casos como tumores cerebrais (benignos ou malignos), hemorragias intracerebrais (como hematomas ou aneurismas), lesões traumáticas na cabeça (como fraturas que afetam o cérebro), Infecções cerebrais, como abscessos, e algumas malformações vasculares, como malformações arteriovenosas

RECUPERAÇÃO E SEQUELAS

O prazo de recuperação após esse tipo de cirurgia varia, dependendo de vários fatores, como a extensão da cirurgia, a saúde geral do paciente e a condição tratada. Em geral, a recuperação inicial pode levar de algumas semanas a meses, e a reabilitação pode ser necessária para restaurar funções cognitivas ou motoras.

A craniotomia pode deixar sequelas, dependendo da razão pela qual foi realizada e da localização da intervenção. Complicações potenciais incluem problemas cognitivos, motores, alterações na visão ou na fala, e dificuldades emocionais.

Há uma chance de ocorrência de novos sangramentos, especialmente se a cirurgia foi realizada para tratar uma hemorragia, como foi o caso de Lula. O risco depende de diversos fatores, incluindo a origem do sangramento, a saúde vascular do paciente e se houve a correção de problemas subjacentes que podem causar novas hemorragias. O acompanhamento médico contínuo é essencial para monitorar qualquer sinal de complicação.
 

TRAUMA DE CRÂNIO

Segundo o neurocirurgião, depois de um trauma de crânio, sobretudo numa pessoa com 60 anos ou mais, existe a possibilidade do desenvolvimento do que chamamos de hematoma crônico, ou hematoma subdural crônico, que surge três a quatro semanas após o acidente.

Vale lembrar que a situação se agravas se a pessoa também faz uso preventivo, por exemplo, de antiagregantes plaquetários, como ácido acetilsalicílico (AAS) ou anticoagulantes, para prevenir acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio. Isso o coloca numa situação de risco para que os pequenos vasos que foram cisalhados e rompidos por conta do trauma, apresentem um sangramento que lenta e progressivamente se organiza, formando um processo expansivo, que até se semelha a um tumor, chegando e um momento em que a compressão do cérebro se faz presente e o indivíduo pode apresentar dor de cabeça, náusea, vômito e alterações neurológicas correlatas com o ponto do cérebro que é comprimido, necessitando então do tratamento cirúrgico.

FORMAÇÃO DO SANGRAMENTO

Ele se forma devido a um pequeno sangramento que existe no momento do trauma entre as membranas que envolvem o cérebro, de maneira que lenta e progressivamente esse sangue não é absorvido, ele se organiza com duas cápsulas, uma que fica em contato com o cérebro e outra em contato com o crânio, através da dura-máter – essa membrana espessa que envolve o cérebro – e conforme o tempo passa o volume vai aumentando dentro dessa coleção, de maneira que se a pessoa ainda por cima faz uso de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, existe uma chance ainda maior desse hematoma ir, lenta e progressivamente.

Depois da drenagem do hematoma, a pressão intracraniana volta ao normal, a compressão deixa de existir e o paciente experimenta melhorias.
 

FOI UM DERRAME?

Derrame é o nome popular do Acidente Vascular Encefálico (AVC), quer seja ele isquêmico, que é quando um vaso entope e o sangue não chega para os neurônios, ou seja hemorrágico, onde existe sangramento dentro do tecido cerebral. Pode ser secundário a um acidente vascular cerebral do tipo hemorrágico, ou se ela acontece fora do crânio, entre o espaço que existe do cérebro com a dura-máter, com a meninge externa, temos então a formação do hematoma subdural crônico – uma hemorragia de caráter crônico que aumenta e, progressivamente, comprime o cérebro.

Pelas informações divulgadas até o momento, não é o caso que o Lula apresentou, exceto se o hematoma em questão for um hematoma intraparenquematoso, que nada tem a correlação com o trauma.
 

GOSTOU? COMPARTILHE AGORA:

X | Twitter
Telegram
Facebook
LinkedIn
WhatsApp