PAIS POSTAM FOTOS DE FILHOS EM SITES DE NAMORO

   As mães e companheiras provavelmente desconhecem. O fato é que seus filhos
(alguns bebês de colo) estão sendo exibidos no Plenty of Fish (que
significa abundância de peixes em português), mais conhecido como POF,
site de namoro online, que diz ser o maior do mundo, com mais de 3 milhões de
usuários ativos. 



 E o que é mais curioso: nessa rede de “pescaria” as
fotos são postadas pelos próprios pais em suas páginas de perfil.  Há
bebês, crianças de 4, 5, 6 anos, algumas até trocando os dentinhos, e
adolescentes – tanto meninas, quanto meninos.
  
 Além
do Brasil, o POF informa em sua home page estar presente na França, na Espanha
e na Alemanha e é um dos maiores anunciantes da internet (seus anúncios
aparecem em portais de notícias, de viagens, aplicativos etc). Em inglês, é
encontrado nos sites de busca como POF.com Free Online Dating Service
for Singles,
mas os brasileiros
não conseguem acessar suas plataformas internacionais.Tem uma página no
Facebook com cerca de 25 mil seguidores, onde costuma postar casos de pessoas
que se conheceram ali e o relacionamento foi adiante.




  Embora no
momento do registro, o site de namoro online solicite que na foto de perfil (a principal) a pessoa
mostre o seu rosto nitidamente em uma imagem recente e apareça sozinha, a regra
é ignorada tanto pelo POF quanto pelos usuários.



 Além de infringirem a lei do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), eles expõem as crianças, visto que
a internet é hoje um das ferramentas mais utilizadas pelos pedófilos e também
por golpistas de toda espécie. E o que é pior: a atitude parte dos próprios pais…


  É raro encontrar nos perfis ou álbuns de fotos imagens de crianças, justamente por se
tratar de sites especializados para namoro, salas discretas de encontros
virtuais, que são frequentados por usuários das mais diversas faixas etárias,
classes sociais, estado civil, intenções e onde acontece todo tipo de conversas.

 Há pessoas em busca de relacionamento sério,
como um namoro e até mesmo um casamento; outras querendo apenas diversão ou
companhia virtual; outras ainda procuram encontros casuais e “azaração”, como
elas mesmas definem em suas apresentações. 



 Alguns fazem perfis falsos, aparecem
com fotos que não são suas e existem também centenas de homens casados em busca de
aventura extraconjugal. Enfim, a plataforma é eclética e ali é preciso “surfar” com certo cuidado
para evitar problemas.
  

 PAIS&FILHOS


 Ocorre que de uns tempos para cá, começaram a
aparecer no POF homens que postam em seus perfis fotos com seus filhos, seja em
casa, em festas, no jardim, na praia etc. Alertada por amigos, fui investigar.



 Quando vi um bebê ao lado do pai
sorridente em sua foto de perfil, que fica constantemente sendo exibida na
galeria para milhares de pessoas, achei que a garotinha, aparentando ter cerca
de 4 meses e com uma fitinha vermelha na cabeça, não deveria estar exposta
daquele jeito. Pesquisei inúmeros perfis masculinos e
também encontrei vários homens com crianças em suas fotos principais.

 Como o perfil do pai da bebê foi acessado para
observar melhor a foto (o site mostra ao usuário quem o visitou), ele,
identificado ali com o nome de Pedro, mandou uma mensagem, por achar que estava interessada em conhecê-lo.



  No meio da conversa, perguntei por que estava
exibindo a sua filha ainda bebê naquele site e se sabia que a internet é um dos
principais campos de ação de pedófilos. Respondeu que a sua página era visitada
apenas por mulheres e que, por isso, não tinha problema algum.

 Em regra geral,
as mulheres veem em suas galerias apenas os homens e os homens somente as
mulheres. Mas, há maneiras de entrar no site visualizando os perfis de ambos os
sexos. Também foi dito isso a Pedro. Surpreso pela abordagem, ele achou que
estava trocando mensagens com um homem e me bloqueou – uma forma de não ter
mais acesso ao seu perfil.
  
 Como dentro do site há um recurso para
denunciar abusos ou qualquer situação que não esteja dentro das regras de
conduta virtual, usei a ferramenta para comunicar que havia um bebê no perfil
de um usuário e que muitos homens, na faixa dos 30 aos 50 anos, estavam
aparecendo em suas páginas de paquera com crianças nas fotos.



  Não
houve nenhuma resposta, nem sequer um daqueles emails automáticos, dizendo que
o suporte iria averiguar o assunto. Localizei o endereço eletrônico da
assessoria de imprensa do POF e passei um email detalhado e em inglês.



 Disse que o assunto seria abordado em uma
reportagem e que era fundamental ter uma posição do site sobre a
questão. Deixei todos os meus contatos. Também não houve resposta.



 Após anos de
muito debate, chegou-se ao consenso de que a infância e a adolescência devem
ser protegidas das diferentes formas de violência.
Partindo dessa premissa, a legislação traz vários instrumentos que designam os
direitos a crianças e adolescentes. O primeiro é a própria Constituição do país, de 1988, determinando que haja “prioridade absoluta”
na proteção da infância e na garantia de seus direitos, não só por parte do
Estado, mas também da família e da sociedade.


 O artigo 100 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) é claro no que diz respeito à
privacidade: “A promoção dos direitos e proteção da criança e do
adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e
reserva da sua vida privada. 
Portanto, elas não podem ser expostas. 


  A pergunta que não quer calar é: o que
estaria levando os homens a terem esse comportamento nos sites de namoro,
mostrando seus filhos ou sobrinhos, os lugares onde vivem e frequentam? Seria
uma necessidade de mostrarem às mulheres com as quais interagem ou vão
interagir que são homens de família, pais amorosos etc, para causar boa
impressão?

 Depois,
como vão poder culpar o Estado, a internet, as mídias sociais, a sociedade ou
os pedófilos e afins, caso aconteçam problemas ou assédios (há centenas de casos ocorrendo na internet diariamente) se são eles mesmos que expõem seus próprios filhos?



  Esses e outros temas serão sempre abordados neste blog, porque acompanhei uma ampla pesquisa. feita por psicólogos, nos últimos cinco anos. O objetivo não é julgar, dar lições de moral ou expor as pessoas, mas mostrar como funcionam os relacionamentos no universo virtual.


  Foram pesquisados sites do mundo inteiro.
  O resultado?
  Muita história para contar…