POR QUE OS PAÍSES MILIONÁRIOS DO GOLFO SÃO ALVO DE CRÍTICAS NA CRISE MIGRATÓRIA?

   Diante
da crise migratória, muita gente está se perguntando: por que os refugiados escolhem
a Europa, morrendo muitas vezes pelo meio do caminho, em vez de serem acolhidos
pelos países do
Golfo Pérsico, que têm algumas rendas mais altas do mundo e
pertencem ao mundo árabe? Falam a mesma língua e, em tese, têm a mesma
religião, e uma cultura similar, o que facilitaria a adaptação?
  Só que a
história não é bem essa. O curioso é que alguns líderes desses países comentam
o tempo todo sobre a situação dos sírios, inclusive postando fotos em suas
redes sociais, especialmente de crianças. E os meios de comunicação locais cobrem a guerra civil sem
cessar.
                                                                                       Doha, a capital do Qatar, nos Emirados Árabes Unidos

  À medida
que a crise migratória se agrava (e isso é só o começo de um processo que ninguém sabe ainda como vai terminar), entidades humanitárias
estão fazendo pesadas críticas aos milionários países do Golfo, que receberam
um pequeno número de refugiados. Elas acusam ainda o mundo árabe de oferecer
uma ajuda insuficiente diante de seu potencial.
                                                                               Ferrari World, na Yas Island, a 40 km do centro de Abu Dhabi

 Segundo
o jornal The New York Times, há
milhares de sírios no Golfo, cujos países têm vasta riqueza de petróleo e há
muito tempo se tornaram os principais destinos para os moradores de países
árabes mais pobres e de outros lugares também. Embora alguns expatriados tenham
construído carreiras bem sucedidas lá, a maioria é formada por trabalhadores
com baixos salários, que desistem de seus direitos para conseguir emprego e
podem ser deportados com um pequeno aviso prévio.  
                                                      A atriz Angelina Jolie durante visita ao campo de refugiados na Jordânia
A
este grupo agora se reuniram muitos sírios que fugiram da guerra civil, mas
eles não recebem apoio financeiro, não entram como refugiados legais, não têm
estatuto de asilo e nem a garantia de uma futura cidadania, porque os países do
Golfo simplesmente não concedem.
 Representantes do Golfo rebatem as críticas,
dizendo que seus países têm oferecido generosamente ajuda humanitária e que é
melhor dar aos sírios oportunidades de trabalho do que deixá-los, sem nada para
fazer, lutando para sobreviver em outros países, ou em miseráveis campos de refugiados.
  “Se não
fosse pelos países do Golfo, esses milhões de refugiados estariam em uma
situação muito mais trágica do que estão”, afirmou ao The New York Times
Abdulkhaleq Abdulla, professor de ciência política nos Emirados Árabes Unidos.
Diz ele que foram recebidos 160 mil sírios nos últimos três anos. “Apontar o
dedo para o Golfo, dizendo que não está se fazendo nada, não corresponde à
verdade”.
“Por
que há só perguntas sobre a posição do Golfo, mas não sobre quem está por trás
da crise ou quem criou a crise?, pergunta Khalid al-Dakhil, professor de
ciência política na Universidade Rei Saud, em Riad, na Árabia Saudita.
  Ainda
segundo o The New York Times, a Arábia Saudita deu este ano US$ 18,4 milhões
para o fundo das Nações Unidas responsável pela Síria, enquanto o Kwait assinou
um cheque de US$ 304 milhões, tornando-se o terceiro maior doador do mundo. Os
Estados Unidos deram US$ 1,1 bilhão e concordaram em reassentar cerca de 1,5
mil sírios. 

                                                                                                                      Campo de refugiados na Turquia

RICOS X POBRES


 assunto é polêmico e as críticas ganham munição quando é mostrada ao mundo a enorme riqueza do Golfo, ostentada por eles mesmos com seus arranha-céus, shopping centers sofisticados,  alta tecnologia, carros folhados a ouro e imensas avenidas entupidas com suas SUVS reluzentes. Aliás, uma situação que não existe nos países vizinhos da Síria, como Líbano, Jordânia e Turquia, onde está a maioria dos 4 milhões de refugiados. No Líbano (um país com 3 milhões de habitantes), há 1,2 milhões de sírios, o que representa um quarto da população.
 Alguns sírios dizem ainda que os países do Golfo fazem
pouco caso da situação porque não querem nada que comprometa seu alto padrão de
vida. Omar Hariri, um sírio que fugiu da Turquia para Atenas, na Grécia, com
sua esposa e filha de 2 anos, disse ao jornal norte-americano “que viu esperança
na Europa, e não no Golfo”.


 Esta semana, o comentarista do Kuwait (foto acima) Fahad Alsahelaimi
disse em uma entrevista na TV que o seu país era muito caro para os refugiados,
mas adequado para os trabalhadores. E disse mais: 

 “Você não pode acolher
pessoas de outro lugar, que têm problemas no sistema nervoso, psicológicos ou traumas,
e inseri-los em sociedades.”

 Essa frase parece sintetizar a posição dos ricos países do Golfo em relação à crise migratória. Ou seja, os
refugiados representam “um perigo” para a sociedade.

 Enquanto isso, o restante do
mundo, especialmente a Europa, cuja situação econômica não é das melhores, se
pergunta agora: como acomodar os sobreviventes, entre eles milhares de crianças, de uma pátria destruída
por uma guerra estúpida, que já matou cerca de 270 mil pessoas, promovida por grupos insandecidos que derramam sangue em nome
de Allah? 

E que não sabem viver sem conflitos e armas porque fazem isso desde o início
dos séculos!