POR SIMONE GALIB
Ao longo das eras, o ser humano cultiva o hábito de se apropriar das antigas tradições, mudando o seu verdadeiro significado. Assim, rituais sagrados de grandes civilizações do passado acabaram virando folclore, piada, brincadeiras e até baladas movidas a álcool, máscaras e música eletrônica. É o caso do Halloween, comemorado no mundo em 31 de outubro e que no Brasil foi batizado de Dia das Bruxas.
Todo ano as cenas se repetem: surgem figuras sinistras, outras vestidas de super-heróis, com máscaras e capas, especialmente nos Estados Unidos, onde o Halloween é, de fato, uma festa super popular. Copiando os americanos, os brasileiros agora também comemoram a data com festas à fantasia.
Então, eu me questiono: será que as pessoas conhecem o significado real dessa data? Sabem por que a abóbora é um dos principais símbolos do Halloween?
As cenas de hoje estão mais para “abobrinhas”…
O Halloween não nada a ver com fantasmas, vampiros e zumbis ensanguentados, encenando um verdadeiro show de horrores. Para os antigos, nunca foi essa folia macabra. Muito menos é festa à fantasia ou está vinculada a bruxas horripilantes, de narizes pontiagudos e unhas envergadas, cruzando o céu com suas vassouras. Nenhum desses fatores correspondem à verdadeira origem da celebração.
UM RITUAL SAGRADO

Entre 31 de outubro e 1º de novembro, os celtas – que viveram principalmente na Irlanda – realizavam o Samhain, ritual em que comemoravam a temporada de colheitas e a chegada do outono. Eles agradeciam pela fertilidade dos campos e também preparavam a população para os meses mais frios. Esses rituais, entre outros, eram repetidos a cada equinócio, cada qual com um objetivo específico (veja foto acima).
Os povos antigos usavam máscaras para espantar os maus espíritos que, segundos eles, se aproximavam nas longas e escuras noites de inverno. E costumavam oferecer doces para “agradar” a esses seres das trevas e também para protegerem suas crianças. Daí, a origem da frase “gostosuras ou travessuras”?
A abóbora representa a prosperidade. Tanto que até hoje, os norte-americanos (que conheceram essa tradição com a imigração irlandesa) comemoram a chegada do outono, enfeitando a fachada de suas casas, comércio, canteiros e praças com abóboras, além de outros símbolos ligados aos desejos para uma boa colheita.
Quando a Igreja Católica passou a dominar o Ocidente, ela também se apropriou dos rituais sagrados dos antigos. Dessa forma, o Samhain se transformou em uma homenagem aos mártires que não constavam do calendário romano e aos mortos dos familiares. O nome Halloween é derivado da expressão All Hallows Eve, que significa Dia de Todos os Santos.
QUEM SÃO AS VERDADEIRAS BRUXAS?
As bruxas não voam, e nunca voaram em vassouras. Participaram da história do mundo desde o início dos tempos como mulheres sábias, curandeiras, que irradiavam o amor e praticavam a cura por conhecerem intuitiva e profundamente o poder das ervas. Já nasciam com o dom aguçado da visão e o conhecimento da medicina natural.
Elas atuavam como parteiras, ajudando no nascimento de milhares de crianças. Faziam as mais diversas cirurgias, usando seus unguentos para anestesiar e aliviar a dor em uma época, permeada por muitas guerras e doenças, em que as pessoas eram operadas com a lâmina de adagas, a sangue frio.
Essas mulheres sabiam como cicatrizar feridas – do corpo e do espírito. As que se dedicavam somente às ervas e à cura eram denominadas feiticeiras (ou curandeiras). E as que conheciam o poder da magia, por dominarem os elementos (água, terra, fogo e ar), eram chamadas de bruxas.
Muitas atuavam nos dois campos: na cura e na magia. Os homens também possuíam esse dom. Grandes feiticeiros e bruxos deixaram seu legado. E mais: nenhum rei tomava qualquer decisão sem antes consultá-los. Eram pessoas de grande respeito e prestígio na Corte.
ÍSIS, A GRANDE FEITICEIRA

Portanto, bruxos e bruxas estiveram presentes em todas as civilizações, atuando como médicos dos reis e de seus familiares. Foram cientistas ancestrais e através dos seus laboratórios, instalados nas florestas, surgiram inúmeros medicamentos. Ocorre que os homens, ao longo das civilizações, foram se apropriando das essências que eles criavam para produzir remédios.
QUEBRANDO O PRECONCEITO
Mas, então, você pode questionar: de onde surgiram todos esses estereótipos tão enraizados na história contemporânea, vinculando essas pessoas (de grande sabedoria e poder) somente ao mal ou aos adivinhadores? Se bruxas e magos foram alguns dos maiores cientistas ancestrais, por que acabaram transformados em seres horripilantes depois de tanto contribuírem para a evolução do planeta?
Primeiro, pela própria Igreja Católica que associou esses homens e mulheres, de grande evolução mental e espiritual, ao demônio, igualmente sinônimo de mal. Na Idade Média e no tempo das Cruzadas, foram perseguidos, presos e queimados em fogueiras, sofrendo os mais variados tipos de atrocidades. Os corpos foram violentados, viraram pó, mas a Inquisição não conseguiu transformar seu conhecimento em cinzas.
A INFLUÊNCIA DE HOLLYWOOD
No século 20, não tinha mais “caça às bruxas”. Mas, foi a vez de o cinema se apropriar das antigas tradições de templos e reinos, usando criaturas fictícias para dar mais ênfase aos filmes.
A partir dos anos 1960, Walt Disney criou o seu reino mágico com centenas de personagens encantados, entre eles as bruxas más que voavam em vassouras, levavam Branca de Neve a morder a maçã envenenada, usavam a magia para manter-se jovens eternamente e colocavam em sono profundo a bela adormecida.
Mas, sempre existia uma “bruxa do bem”, tanto nos contos infantis quanto nos filmes da Disney para proteger os heróis e heroínas na luta contra as trevas. A fada madrinha transformou uma abóbora (olha a abóbora novamente!) em carruagem para Cinderela ir ao encontro do príncipe, abrindo um novo ciclo na vida da protagonista.
Porém, a apropriação mais indébita do ritual sagrado do Samhain surgiu nos anos 1970, quando Hollywood, em inúmeros filmes, associou o Halloween ao terror, criando monstros e toda variedade de zumbis. De lá pra cá, essa errônea visão só ganhou reforço.
Porém, no século 21, na refilmagem de Malévola – com a brilhante interpretação de Angelina Jolie – a essência da magia voltou a se manifestar no cinema. E Malévola venceu o mal com o amor do seu coração. Aliás, como faz uma verdadeira bruxa. O resto é folclore!
Pense nisso antes de vestir a sua fantasia macabra ou encher a casa de abóboras…sem saber exatamente o que está fazendo. E, se você preza o seu bem-estar, saiba que sair por ir fantasiado de zumbi, mesmo que seja para ir a uma “inocente” festa à fantasia, atrairá os zumbis invisíveis que estarão vibrando na mesma frequência. O Hallowen pode ter virado um folclore, mas a energia que hoje a data movimenta é real. O que você pensa, sente e fala, atrai para o seu campo!