SOS BRASIL, SOS MARIANA, SOS ABROLHOS, SOS NATUREZA!

  A informação de que a lama tóxica provocada pelo acidente em Mariana (MG) pode atingir o arquipélago de Abrolhos é alarmante e tão dolorosa quanto a morte anunciada do rio Doce – como todo rio, uma fonte permanente de vida. E a mancha de lama já alcançou o mar do Espírito Santo. O cenário é desolador. E este grave acidente ambiental trará consequências imprevisíveis…  


 Eu visitei o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, há alguns anos, para fazer uma reportagem para a Folha de S.Paulo. Mas as experiências vivenciadas nesse local, reconhecido como um dos mais importantes santuários ecológicos do mundo, ainda estão muito vivas na minha lembrança.


 Não consigo assimilar que esse paraíso, de águas cristalinas e com uma rica fauna e flora marinhas, e um dos cenários mais procurados por mergulhadores e por aqueles que tentam evitar a extinção de espécies, pode ficar tingido de lama – e ser igualmente assassinado pelas “mãos do homem” e pelo descaso com que o governo trata este país.




BERÇO DAS BALEIAS 


 O arquipélago, formado por quatro ilhas de formação vulcânica, é um imenso aquário a céu aberto. É também considerado o berço das baleias Jubarte que a partir de julho procuram o litoral sul da Bahia para reprodução. Elas ficam nas águas mansas e mornas até que seus filhotes cresçam e adquiram uma capa de gordura para enfrentarem as águas com temperaturas abaixo de zero da Antártida. 


 Chegar até essa área de proteção ambiental exige espírito de aventura e um imenso amor pela natureza. A cidade mais próxima é Caravelas (a 870 km de Salvador), de onde partem os barcos e catamarãs, levando visitantes. Não existem hotéis no parque marinho e o pernoite é permitido somente nos barcos.


 Na ocasião, a travessia levou cerca de cinco horas, em mar aberto, bastante agitado. Lembro-me que alguns passageiros sentiram-se muito mal durante todo o percurso, sofrendo náuseas. Eu também fiquei meio mareada. Mas a expectativa de amanhecer naquele santuário ecológico me fez suportar a viagem em alto astral.



 Valeu a pena. Passei três dias ancorada num pequeno catamarã, sem muito conforto. Mas os presentes da natureza compensavam qualquer sacrifício e tinha a sensação de estar em uma piscina gigante tamanha a calmaria do mar. Como esquecer a emoção de despertar com os sons estridentes das aves e das tartarugas marinhas enormes, super próximas ao barco e tão receptivas ao nosso contato?


  Mergulhei com snorkell, ficando face a face com peixes coloridos – e de todos os tamanhos. A fauna marinha de Abrolhos não sente receio da nossa aproximação porque sabe que estão (ou estavam…?) protegidos.  

  À noite ficava olhando o céu forrado de estrelas até vir o sono, sentindo a brisa do mar no doce balanço do barco e em total silêncio. Foram também momentos de pura gratidão pela fantástica oportunidade de ter cruzado uma pequena parte do Atlântico para estar naquele santuário, até então em perfeito equilíbrio e intocável.


  Eu não sei o que pode ser feito para evitar tamanho estrago, porque a lama avança muito rápido em direção ao mar, levando destruição a vários municípios. Aliás, ninguém parece saber…


  O descaso com a vida humana, animal e vegetal é tamanho que não há dinheiro que pague por esse lamentável e grave acidente ambiental. Não adianta apenas multar a empresa responsável, porque a indenização que será cobrada pela própria natureza não tem preço. E acredito que ela vai pedir de volta, e a um custo muito alto, tudo que a irresponsabilidade humana está destruindo.


  Toda a ação gera uma reação! E as fontes murmurantes já começam a secar neste Brasil brasileiro, onde costumávamos matar a nossa sede…!