CIBERCRIME: CORRETORA DE INVESTIMENTOS CAUSA PREJUÍZOS DE ATÉ R$ 1 MILHÃO A BRASILEIROS!

    Um novo golpe está lesando centenas de brasileiros -e os prejuízos, em alguns casos, chegam a cerca de R$ 1 milhão. São as falsas corretoras, que prometem lucros fantásticos no mercado financeiro internacional de ações. Fique atento: se aplicar qualquer quantia, dificilmente vai recuperar o dinheiro investido.

    Há várias oferecendo seus “serviços especializados” pela internet. Um delas é a Green Candle FX, que diz estar sediada em Londres. Essa corretora vende seus serviços publicando nas redes sociais o anúncio do software Xclusive MT5, que teria sido desenvolvido por empresas de Elon Musk, o bilionário dono da Tesla, da plataforma X (ex-Twitter) e muito conhecido dos brasileiros. Até gente mais acostumada a investir, acaba caindo.


INVESTIGAÇÃO 

  Como sei de tudo isso? Estou investigando a atuação desses cibercriminosos há dois meses. Acompanhei inclusive conversas com uma das vítimas -todas elas documentadas e já em posse dos investigadores da 1ª Delegacia de Crimes Cibernéticos de São Paulo. 

  Essa corretora tinha site oficial (foi tirado na virada do ano), um outro de relacionamento, contas nas mídias sociais -só no Instagram são 15,3 mil seguidores – e um time “de analistas” muito bem treinados para induzir as vítimas a aplicarem seu dinheiro ‘com total segurança”. Não caia nessa: você vai perder tudo!

  No caso da Green Candle FX, os supostos analistas falam português, mas usam números de telefones internacionais. Costumam ligar para seus “clientes” por whatsapp, Telegram e pelo celular.

  Sabemos que esses números hoje são gerados por softwares de computador. Assim, podem estar falando de qualquer lugar, inclusive daqui mesmo do Brasil.

 Eles se autointitulam “doutores” e detestam ser questionados. Um deles, que se identificava como Pedro Rangel, disse ser milionário e que cuidava da “vida financeira de mais 10 milionários no Brasil”. Tudo pela internet, certo?


  COMO FUNCIONA

   Uma vez aberta a conta junto à corretora, a vítima passa a fazer remessas em real por intermédio de empresas de pagamentos, outras corretoras, como a SCD Cora, e até mesmo bancos, como Nubank, BTG Pactual e Santander.

  No início, a corretora permite que o usuário movimente a conta e faça saques pequenos. Eles orientam a fazer a retiradas para “não caracterizar lavagem de dinheiro”. E dão ao cliente um ar de total normalidade ao negócio. 


MERCADO DE AÇÕES

  O caso começa a complicar quando eles induzem a vítima a aumentar o capital para ter lucros maiores. E a levam a assinar uma carta de crédito, que dizem estar garantida pelo banco de investimentos americano JP Morgan para dar um ar de solidez ao negócio.

   Eles enviam a carta em inglês e traduzem apenas alguns tópicos em português – justamente os que interessam a eles. Aliás, os supostos “doutores do mercado financeiro internacional” da Green Candle têm boa lábia e sempre dizem estar vinculados ao JP Morgan. 

 A partir daí, tem início a via crucis do cliente.

  Assim que assinada a suposta carta, em “papel timbrado do banco” (enviada por e-mail), começa a pressão dos cibercriminosos sobre a vítima para que ela cumpra o acordo feito em contrato.

  Muitos acabam depositando todo o dinheiro de suas economias, acreditando que o capital vai lhe garantir uma boa renda extra. 

   Outros estão tão envolvidos pela abordagem incisiva, feita ao longo de meses pelos supostos “analistas”, que até levantam empréstimos bancários para garantir suas aplicações no suposto mercado financeiro internacional e não sofrer eventuais “sanções do banco”, caso não honrem a “carta de crédito”.

   O prejuízo vem em dobro porque, além de não conseguirem recuperar o dinheiro investido, terão de arcar com os empréstimos feitos, o que muitas vezes coloca em risco seu patrimônio. Aliás, eles “aconselham” a pessoa a vender carro e até mesmo hipotecar imóveis. 

  Como se não bastasse, ainda ameaçam a vítima – por telefone e por um e-mail em nome do JP Morgan – de processo jurídico internacional, altos custos com advogados e bloqueio de suas contas bancárias no Brasil, caso não honre seus compromissos. 

 Uma situação surreal, mas que transforma a vida da pessoa, já transtornada pelas perdas financeiras, num pesadelo em tempo real.  


CASO DE POLÍCIA  

   Não se sabe exatamente o número de vítimas que caíram no golpe. Segundo a Delegacia de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo, tudo não passa de uma nova modalidade de pirâmide financeira. A polícia vem registrando boletins de ocorrências de corretoras com práticas semelhantes.

  No site Reclame Aqui, há 43 denúncias ativas envolvendo a Green Candle FX e a página com essas reclamações já tem mais de 5 mil visualizações. A avaliação da corretora pelo site é de “não recomendada” por não responder aos usuários.

  Dessas reclamações, vindas de diversos estados brasileiros, mais de 58% correspondem a descumprimento de acordo, 74,42% sobre o produto vendido e 86,05% a questões financeiras. Praticamente todos os usuários dizem ter perdido dinheiro.

  A maioria relata o mesmo procedimento, ou seja, conseguem fazer pequenas movimentações no início, depois os “analistas” desaparecem, a conta que abriram também e o dinheiro evapora.

   No site internacional www.wikiFx.com (que verifica a vericidade de sites de corretoras), a Green Candle aparece como “alto potencial de risco”. O site diz ainda que a empresa não tem registro válido e é um “negócio suspeito”. Pede aos usuários que tomem cuidado.

   No site oficial do escritório do JP Morgan no Brasil, há um comunicado importante, em letras grandes, dizendo que o banco não oferece serviços a pessoas físicas e não atua em parceria com terceiros sem autorização para operarem no mercado brasileiro. 

  ”Desconfie de empréstimo, linha de crédito ou quaisquer ofertas de serviços bancários e de investimentos” em nome do banco”, diz o comunicado. 

   E acrescenta:

  A oferta a investidores residentes no Brasil de investimento em mercados de ações, índices, contratos futuros de commodities, Forex, dentre outros, depende de prévia autorização da Comissão de Valores Mobiliários. O grupo não tem competência para investigar denúncias de condutas supostamente criminosas. Caso entenda ter sido vítima de fraude, recomenda-se que procure a autoridade policial.”

  Se você é uma das vítimas, não pense duas vezes em avisar a polícia -hoje há delegacias especializadas em crimes cibernéticos em várias regiões do país.

  Outra dica valiosa: evite cair em armadilhas buscando informação. Dinheiro fácil na internet é só para os cibercriminosos!